Aplicação em sala: a resposta dos alunos

“O mundo não é, o mundo está sendo” (Paulo Freire)
A aplicação prática de minha pesquisa foi realizada entre 8 e 22 de agosto de 2005, na Escola Estadual “Ataliba Leonel”, com adolescentes (12 anos) de 6ª série. O trabalho pretendeu colaborar para que fossem estabelecidos os alicerces de cidadania, e despertados o interesse e a preocupação com os destinos da comunidade.

Para discorrer sobre a aplicação e o resultado, tomamos uma amostragem de 10 alunos. Ficou evidente na apuração das questões de educação ambiental que todos conhecem o funcionamento de uma usina, citam represa, gerador, turbina e a força das águas nesse processo de produção da energia elétrica, mas, ao mesmo tempo, apresentam um total desconhecimento de suas consequências para a localidade.

Durante a apresentação do vídeo, os alunos ficaram atônitos diante das imagens mostradas. O que mais espantou foi, principalmente, o trecho em que havia uma grande quantidade de árvores boiando e fermentando, mostrando o descaso na construção e funcionamento da usina, em 2003.

Pelo resultado apresentado nas redações, pudemos observar diversas conclusões: que Piraju já possui usinas demais, que queremos pelo menos este trecho vivo de rio para nós e para as gerações futuras, para que seja implementado o turismo, e que todos possam ser beneficiados. Não ao detrimento de muitos (que são os moradores da cidade) para o lucro de apenas um grupo econômico. Numa das redações, a aluna trata a questão com argumentos como “deve ser proibido, por excesso de usinas”.

Sobre a água, os alunos ficaram estarrecidos com a questão da quantidade de lixo e esgotos que vão parar nos rios. Alguns pensam que jogar o lixo no chão ou colocá-lo de qualquer maneira na rua não significa o mesmo que atirá-lo diretamente no rio. Em nossa cidade existem vários moradores que infelizmente jogam seu lixo nos bueiros, queimam ou colocam tudo misturado (o que acarreta a proliferação da população de ratos na cidade, que causam a leishmaniose).

A aula final, e de encerramento do projeto, foi na Fecapi, no Salto do Piraju, com nossa aula/passeio. As atividades foram realizadas ao ar livre, sobre o basalto da margem do rio. A grande maioria não conhecia o local, e dos trinta e sete alunos, apenas um havia estado ali para assistir ao Campeonato Paulista de Slalom (esporte de corredeiras), realizado em seis de agosto.

No local foi tratado sobre as origens do vale do Paranapanema e da nossa cidade. Ao retornarmos para a sala de aula, enfatizamos que o destino de nossa comunidade está sendo discutido, e que está em nossas mãos, em nossas consciências e atitudes como se dará o desenvolvimento sustentável que iremos legar aos que virão depois, ou seja, aos nossos filhos e netos.

Com a necessidade imperante de se preservar e conservar nosso patrimônio ambiental, cultural e histórico, ficou claro que, apesar de não ter sido possível abranger toda a problemática da educação ambiental, o objetivo primordial, que representa a preocupação e conscientização com o destino do último trecho natural do rio em nosso município, foi alcançado.

Nestes textos é possível constatar a importância percebida por eles de como lidar com o ambiente à nossa volta e, principalmente, com o destino final de uma área tão vital, dos cuidados com a água, com a mata, os animais e a saúde da população. Nas redações sobressaem as manifestações de consciência política, cidadã, consciência de que aqui é o nosso lar, da preocupação com o futuro dos filhos e netos, com o desmatamento, com a morte dos animais aquáticos e terrestres, de que o rio é o principal orgulho de nossa cidade, o principal astro do turismo, e de que querem eles mesmos decidir seus futuros.

Por: Adriana Garrote Paschoarelli

contato: adrianagarrote@ig.com.br

Com o olhar em nosso meio

Na conclusão de minha pesquisa constatamos que o momento educacional em que vivemos está passando por transformações profundas. Hoje, cada educador revê sua maneira de atuar. Seja de forma intensa e transformadora, ou superficial, só para constar. O importante é que todos percebem que o modelo que aí se encontra não satisfaz a ninguém. Professores tiram licenças uma após outra, aluno indisciplinado dentro da sala de aula, muitas vezes, não aprende, não transporta para sua vida o aprendido. A educação está distante das questões pertinentes vividas por seus educandos.

Durante os anos de faculdade discutimos muito a esse respeito. Observamos em nossa própria sala de aula o descaso para com o meio ambiente. A distância do lixo não é vencida por alguns passos. Celulares, necessários ou não, apitam chamando a atenção, há uma impossibilidade de viver sem. O destino da bateria, muitas vezes, segue o caminho do lençol freático. Nesse afã de consumo, o ambiente nem é notado, como se vivêssemos suspensos no nada, ou pior, vivemos ignorando o resultado de nossas atitudes, ignorando o destino final de nossos produtos consumidos, esgotados e descartados.

Vivemos a cultura do desperdício, do consumo desenfreado, do descaso para com o lixo, com a água, com a energia, com os recursos ambientais. O lixo está na calçada, na rua, no ribeirão, no rio. Pontas de cigarro, latas, garrafas e sacolas plásticas, papéis estão espalhados por todo lado. A cidade está suja e o país também. Triste realidade essa nossa, em que a falta de educação está prejudicando nosso crescimento.

Nossa fama de que somos sujinhos vai se espalhando mundo afora. Devemos estimular tanto adultos quanto crianças para que destinem bem o lixo. Assim nossa imagem em outros países não fica prejudicada. O momento é de enfatizar que todos ganham com atitudes e medidas de conservação e preservação, nosso país será uma nação mais saudável. É a chamada “Operação Brasil Limpo”. (ALVES, 2001, p. 56).

Já o setor elétrico, por sua vez, continua com sua tática de ‘fato consumado’, uma das estratégias mais utilizadas para levar a população a se conformar de que não há mais nada a ser feito ou falado, de que o poderio econômico vence qualquer vontade do povo. Essa estratégia está em todos os meios de comunicação, até no boca a boca local.

Durante toda a pesquisa, em cada capítulo procuramos focar e descrever os motivos, a nosso ver, imprescindíveis, do porque não destruir o local de nossa memória, de nossa identidade. Somos parte integrante de nossa cidade, o rio se modificando, também seremos modificados.

Represando o rio, não serão barradas somente suas águas: nossa vontade expressa em leis, nosso patrimônio ambiental tombado, nossa riqueza ecológica, diversidade de matas, de fauna, nossa vocação, nosso interesse econômico de desenvolvimento sustentável, nossa história, nossa cultura, o futuro, não somente o nosso. Nossa comunidade precisa estar sempre atenta.

por Adriana Garrote

Contato: adrianagarrote@ig.com.br

O rio Paranapanema não está à venda!

A população pirajuense não quer vender ou trocar as corredeiras do Rio Paranapanema por pista artificial artificial de slalom ou parque aquático. Chega de ladainha, de conversa fiada. Chega do canto da sereia para enganar o povo como foi feito pela CBA na construção da usina Piraju I. Os pirajuenses querem as corredeiras em sua integridade. O rio não está à venda!

Prova disso são as leis que estão em vigor e protegem o trecho, e os documentos oficiais enviados à ANEEL pelo prefeito e todos vereadores, demonstrando claramente a vontade soberana do povo pirajuense nesta questão.

Chega de usina em Piraju!

Foto: OAT

Legenda: As corredeiras naturais de Piraju formam atletas de nível internacional na canoagem slalom

Educação Ambiental, que aconteça de fato

Como se relaciona educação ambiental e cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere- se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens... processo permanente de aprendizagem forma cidadãos com consciência local e planetária. (JACOBI, mai. 2003).

Ter cidadania significa possuir identidade, ser de um local específico. Uma educação pautada neste alicerce representa uma educação com formação e não somente informação. A informação está em todos os lugares, disponível. O tesouro maior que se transmite é um saber construído há milhares de anos. A educação deve estar centrada no ser humano, em suas atitudes. Somos um ser histórico, que acumulou conhecimentos com o passar dos anos.

O homem não se satisfaz em viver apenas, mas pretende transcender à natureza, criar. O saber constituído, criado, é transmitido, e esta é a responsabilidade da educação. A ela cabe o papel de perpetuar valores. Focalizar o aluno em seu meio, ensinar história sem esquecer a política, ensinar geografia sem desconsiderar as condições de vida da comunidade. É preciso realmente inseri-lo em seu mundo e não apenas prepará-lo para vestibular e mercado de trabalho. O aluno precisa ser o “sujeito” da educação. É preciso transpor esta educação de avaliar como um fim em si mesmo. Não basta encaminhar quem já está no caminho, é preciso simplificar e tratar de problemas que afligem a sociedade. (PARO, vídeo, 1996).

De acordo com o PCN (1998), em relação ao meio ambiente, o que ocorre hoje em salas de aula é uma real cultura do descaso e da inconsequência. Na formação de nossos educandos não há preocupação com o resultado das atitudes (aluno, funcionário, professor...). O foco central é a boa nota. Quem tira dez nas provas de avaliação é considerado excelente aluno, não importa se joga lixo no chão, se deixa garrafas de água e refrigerante tombadas pelo caminho, papéis de bala, rabiscos e estragos nas carteiras. Afinal, a escola dispõe de alguém para limpar depois. Este é o pensamento que habita a realidade escolar, a prioridade é a nota.

Assim, é importante fazer o aluno “perceber e entender” que suas atitudes têm consequências e que ele é responsável, sim, e deve atuar para minimizar os impactos negativos ao ambiente. É preciso rever valores e posturas nesta relação homem-natureza. Levar cada educando a encontrar, de fato e de direito, o seu lugar na sociedade pirajuense a partir de uma efetiva Educação, voltada a seu próprio meio. E conhecer, e aprender. Pois, somente cuidamos e lutamos para proteger aquilo que conhecemos de verdade, e que, portanto, é parte de nós, como nosso rio, com toda sua memória e história – respeitando-o, preservando-o.

Por: Adriana Garrote (adrianagarrote@ig.com.br)

Foto: Fernando Franco - OAT
Legenda: Flor de Ipê Rosa

Seminário sobre aquecimento global em Piraju

No próximo dia 8 de dezembro, quinta-feira, acontece em Piraju o Seminário "Efeitos do Aquecimento Global Sobre o Microzoneamento e Gestão de Recursos Hídricos para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto do Paranapanema – Piraju - Estado de São Paulo"

O evento acontecerá no Hotel Farol do Lago, Rodovia Raposo Tavares Km 297,5, na Estância Turística de Piraju - SP e as inscrições são limitadas.

A realização do Seminário é da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag, Ministero Dell ´Ambiente e Della Tutela del Territorio e del Mare (IMELS) , Fórum das Américas (FDA) e da Agência Paulista de tecnologia dos Agronegócios (APTA), com apoio da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA), Governo do Estado de São Paulo, FEHIDRO, CBH-ALPA, CBH PP, CBH RB.

O público alvo são pesquisadores, professores, estudantes do 2º e 3º grau, membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas, técnicos da extensão agropecuária, ONGs ambientalistas, Defesa Civil dos municípios e agricultores.

Programação

Apresentação
8:30 - ABERTURA

9:00 - A vulnerabilidade da agricultura em um cenário de mudanças climáticas e aquecimento global. IMELS- Itália.

9:45 - Situação dos recursos hídricos no CBH-ALPA-Dr. Rogerio Menezes-Secretário Adjunto- Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos- SP.

10:30 - CAFÉ

11:00 - Manejo do solo e efeitos do plantio direto sobre o Seqüestro de CO2 para mitigar as Emissões de Gases do Efeito Estufa. Dr. Denizart Bolognesi-SAA-APTA-DDD/IAC

12:00 - ALMOÇO

14:00- Mudanças climáticas e eventos meteorológicos extremos: Ênfase a região do Alto do Paranapanema. Dr. Gabriel Constantino Blain-SAA/APTA-IAC .

15:00 - Cenários de Aquecimento Global e exigências de zoneamento agrícola para o CBH-ALPA - Dr. Orivaldo Brunini-SAA/APTA-IAC/FUNDAG

16:00 - ENCERRAMENTO

Mais informações:

www.infobibos.com

(14) 3351-5848 - Hotel Farol do Lago

Texto e foto: Fernando Franco - OAT, com adaptações
Legenda: Enchente no Rio Paranapanema: pode ser efeito do aquecimento global

Educar para cuidar do meio

Por: Adriana Garrote Paschoarelli*

Um dos caminhos para que a sociedade toda atente para as questões que lhe são pertinentes é o conhecimento e a informação. Com este propósito, e sob orientação do professor Natal Joaquim Varella, pesquisei como tema de trabalho de conclusão de curso (tcc) em Pedagogia a educação ambiental com o título: “Preservação dos últimos sete quilômetros de leito natural do rio Paranapanema no município de Piraju”, finalizado em 2005.

Nesse trabalho procurei entender e colocar como objetivo geral uma contribuição para a sociedade sobre a necessidade de conscientização e participação de todos na defesa de nossas riquezas naturais. Ao mesmo tempo em que, no final dessa pesquisa, na aplicação prática, levei aos alunos aqueles mesmos ideais de preservação e conservação do nosso patrimônio arqueológico, ambiental/paisagístico, cultural e histórico, ligados à memória nacional. Consideramos o trabalho de relevância, pois atinge diretamente a qualidade de vida da população e interfere na cultura local.

No procedimento de abordagem do trabalho, tomamos como base o método Fenomenológico. A fenomenologia tende a buscar a essência das coisas. É uma ciência em contato direto com o ser absoluto das coisas, não se trata apenas de descrever o simples 'aparecer' das coisas, mas também de formular uma teoria do conhecimento (GILES, 1975, p. 137). De retornar à estaca zero do problema para que se encontre evidência e fundamentação. Assim, buscamos o ‘desconstruir’ do pensamento de que a utilização do potencial hidrelétrico do trecho vivo do rio traz desenvolvimento e somente gera progresso à comunidade em que está inserido, visto que o projeto desejou explicitar e desmistificar toda a questão.

Discorremos, então, sobre os pontos que cerceiam o problema para acrescentar um olhar mais apurado e assim colaborar para um efetivo ingresso nas discussões, saindo de vez do senso comum.

É preciso pensar que depois do tsunami, da onda gigante no Japão, o planeta inteiro pôde observar os perigos da geração de energia através de usinas nucleares. Parece-nos que, no Brasil, esta tragédia asiática produziu uma falsa sensação de que é melhor investir em hidroeléticas. Haja visto o assédio ao nosso vizinho rio Pardo, onde querem construir 5 pequenas usinas de uma só vez.

Nem nossa cidade escapou dessa mentalidade. De todo o Paranapanema, com exceção da nascente, somos o único trecho de rio que não ficou barrado, e que ainda é dos menos atingidos pela degradação. E, mesmo protegido por leis, não escapa desse assédio, desta ganância. O País precisa crescer, sim (de mentalidade também), com consistência e investindo em energias renováveis e menos impactantes. Buscar maneiras mais originais e criativas do que barrar todos os trechos possíveis. E possibilitar que os pequenos municípios, Piraju, Santa Cruz do Rio Pardo, não sofram com o fim das expectativas de crescimento através do turismo.

Por fim, com a nossa pesquisa, foram vários caminhos percorridos nos livros, porque pretendíamos descobrir a verdade sobre a real necessidade de tantas usinas para “a tão propalada” carência energética. Pudemos comprovar que a infinita “necessidade de geração de energia elétrica” proveniente de hidrelétricas, já não se sustenta. O caminho é educar para cuidar do meio.

*contato: adrianagarrote@ig.com.br

Três agentes da crise energética

Por: Adriana Garrote Paschoarelli*

“Nosso planeta pode satisfazer as necessidades da humanidade, porém não sua ambição”. (GANDHI, In: PÉREZ, 1995, p.221).

O Brasil ingressou na era da energia elétrica no final do século XIX, através da utilização do potencial hidrelétrico. De lá para cá, com uma necessidade constante e progressiva, esse modo de produção de energia foi ampliado vertiginosamente. Com essa intensidade toda na construção das obras, o desenvolvimento tecnológico que o setor trilhou entre as décadas de 60 e 80 foi gigantesco. Na década de 80 aparecem dois fatos que alteram a dinâmica da produção hidrelétrica, tanto mundial quanto brasileira.

O primeiro e mais determinante foi o endividamento do país, que, entre outros efeitos, elevou juros, inviabilizou empréstimos, engessou a economia. E o segundo, a influência na área ambiental de organizações internacionais que pressionam instituições, também internacionais, de financiamento, como BIRD, BID. Consequentemente, houve uma paralisação de 10 anos nos empreendimentos. Já a partir de 1997 e 1998, os investimentos foram retomados, resultantes da aprovação de um conjunto de leis ambientais e também da entrada do mercado privado no setor — Alcoa Alumínio S/A, Banco Bradesco, Cia. Cimento Itambé, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Consórcio TRACTEBEL/GERASUL, CPFL, CSN, e Grupo Odebrecht são algumas das empresas que atuam nas construções de usinas.

No modelo atual de desenvolvimento, nossas sociedades apresentam demanda crescente, para a saúde, o lazer, o conforto, como também para os crescimentos industrial, urbano e agropecuário. A energia elétrica funciona também como indicador do nível de qualidade de vida. O que não podemos deixar de lado são os efeitos do homem sobre a terra, a água, a atmosfera, a flora e a fauna.

O modo de produzir energia através de barramento de rio já levou à expulsão de terras de 80 milhões de pessoas no mundo. Possuímos no país mais de duas mil barragens, e há uma previsão do governo federal de construir mais 500 hidrelétricas, o que acabaria por expulsar de suas próprias terras mais de 800 mil pessoas.

Um dos impactos ambientais negativos mais flagrantes gerados pela imposição das barragens é a falta de consideração em relação aos impactos sócio-culturais e biopsíquicos que sofrem os povos ribeirinhos, indígenas, e a comunidade local, que acabam por sofrer modificações e transformações profundas na sua maneira de viver, de cultivar suas tradições e na relação direta com suas terras. (DIAS, 2001, p. 291).

O estrago econômico e social é grande, particularmente em nossa região, onde possuímos grande densidade populacional, e terras férteis inutilizadas pelos alagamentos. A qualidade da água procedente de barramentos, que abastece as comunidades dos municípios atingidos por represas, também fica comprometida pela decomposição das árvores no fundo do reservatório. Em escala global, o apodrecimento da vegetação submersa provoca grande emissão de gases, como o carbônico e metano, que são os grandes vilões do aquecimento da atmosfera, o popular efeito estufa.

A crise energética brasileira possui três agentes. O primeiro é o modelo excludente de produção e consumo: nesta ordem, a energia é disponibilizada para movimentar indústrias e, depois, para quem pode pagar. As maiores consumidoras são as empresas eletrointensivas, que atuam na fabricação de alumínio, cimento, papel, zinco, níquel, metais não ferrosos, química, ferroligas, cloro, entre outras.

O segundo é o governo federal, que pouco investe em planejamentos e pesquisas, e reafirma o modelo excludente através da privatização do setor para empresas nacionais e multinacionais, ou seja, confiando alguns dos nossos recursos essenciais — a água, a terra e a energia.

O terceiro são as empresas que se utilizam do sistema para lucrar, tanto na produção como no consumo de energia.

Outro aspecto relevante é a forma monogeradora de produção: 92% da energia gerada no país provêm de hidroelétricas. (MAB, ago. 2005).

As universidades públicas federais e estaduais se debruçam sobre essa questão monogeradora - fazer de um jeito só, uma maneira apenas - de produzir energia, e os resultados são unânimes em apontar que a utilização do potencial hidráulico de um rio gera apenas déficit ao município impactado.

Hoje, os barramentos são considerados entre as formas mais impactantes de se produzir energia. “Novas alternativas estão sendo geradas, novas possibilidades surgem com os avanços da ciência, impactos gerados podem ser irreversíveis” (PIROLI, 2011). O que buscamos é uma economia local viva e ativa (CARVALHO, 2008).

“Os recursos do BNDES (Fundo de Amparo ao Trabalhador) devem ser investidos na pesquisa de energias renováveis e não degradadoras, ou em sistemas de economia de energia para a população. O dinheiro do BNDES, que é nosso, não pode ser usado para nos prejudicar” (PIROLI, 2011).

*contato: adrianagarrote@ig.com.br

Geração de energia: já contribuímos, e bastante



Por: Adriana Garrote Paschoarelli*

As indústrias brasileiras pagam apenas a metade da conta de luz, e é exatamente onde ocorre o maior índice de desperdício, gastam sem consciência. Se o setor industrial pagasse 100% de sua conta, como pagam os consumidores domésticos, já haveria racionamento, porque teria de economizar, uma vez que são as indústrias as maiores consumidoras de energia elétrica do país. (STIPP, 1999, p. 90).

No Brasil, 17% da energia elétrica gerada são desperdiçados, devido também à má conservação dos fios e cabos da rede de distribuição. Somente nas indústrias o desperdício é de 25%. Lâmpadas acesas sem necessidade, equipamentos antigos, banhos demorados e máquinas desreguladas são os principais responsáveis pela perda de 5 bilhões de dólares por ano. Oito mil dólares é o preço para se instalar um novo chuveiro elétrico e, no mundo, somos a única nação a utilizá-lo. (DIAS, 2001, p. 529).

A construção de novas hidrelétricas causa violentos danos ambientais. É necessário estar atento e refletir sobre a necessidade de desenvolver nossa eficiência energética. Acabar com o desperdício através da mudança de hábitos, utilizar equipamento que faz o mesmo trabalho com menos consumo de energia e, principalmente, investir e utilizar formas alternativas de energia, a solar, a eólica, a geotérmica e a biomassa. (DIAS, 2001, p. 529-530).

É importante destacar que, no Brasil, ainda não se investe o suficiente em pesquisas sobre fontes alternativas de energia. Este seria o papel a ser desenvolvido pelas universidades brasileiras, colocando toda sua infraestrutura – e também seus pesquisadores, professores, técnicos – a esse serviço. As universidades devem estar a serviço da melhoria das condições de vida das comunidades. (STIPP, 1999, p. 91).

Nossa região possui quatro hidrelétricas em pleno funcionamento: Jurumirim (98 MW), Chavantes (414 MW), Paranapanema (32 MW) e a recém-construída Piraju (80 MW).

Somente para a instalação desta última usina, foi desmatada uma área de 295 hectares, constituídos basicamente por mata nativa e terras férteis, o que representa mais de 300 campos de futebol, com 14 mil árvores de grande porte cortadas.

Em tempo: possuímos diversas usinas em nossa região, e assim somos grande contribuinte dentro do sistema elétrico nacional. Aqui é gerada uma quantidade superior à necessidade regional e, portanto, não é necessário construir mais usinas por aqui. (PIROLI, 2011).

É preciso que a sociedade pirajuense saiba exatamente a dimensão dos impactos sócioambientais, culturais e de outros problemas que ela estará assumindo caso se concretize a implantação e funcionamento da última possível hidrelétrica no município. A não ser que depois queiram represar nossos ribeirões, estes também esquecidos e tão desconsiderados, como somos, pelas instâncias federais.

*Contato: adrianagarrote@ig.com.br


Foto: Fernando Franco - OAT

Turismo ecológico, nossa vocação natural




Por: Adriana Garrote*

O rio Paranapanema passa por 34 cidades, onde vivem mais de 530 mil habitantes. Ele faz parte da Bacia do Paraná, onde são contadas 120 (cento e vinte) usinas hidrelétricas de grande porte, isto sem mencionar as pequenas e médias. Dá para imaginar a quantidade de cimento que se encontra nos rios de nossa bacia? E, ainda assim, não está bom, ainda não basta.

O que possuímos até agora são lagos para todo lado, energia saindo e proporcionando o desenvolvimento dos lugares mais ricos do nosso Estado. E o nosso desenvolvimento, nossas expectativas com o possível? Com a formação de mais um reservatório, justamente no trecho de corredeiras onde ainda se lança o esgoto da cidade, estaríamos condenados a um lago fétido, sem nenhuma chance de turismo de corredeiras, de esportes radicais. Com efeito, querem determinar o fim de nosso sonho, impor limites à nossa sobrevivência, visam ao próprio interesse, nada mais. Nossas águas geram energia elétrica desde 1937, e agora chegou a vez de investirmos de verdade em nosso potencial turístico.

Para os interesses econômicos do município, o ecoturismo é apontado como o grande filão. Esportes chamados radicais e competições náuticas em corredeiras fazem parte da nossa vocação. O turismo é o setor que mais cresce no mundo. Seja ele rural, ecológico ou de aventuras.

Desde 2002, somos Estância Turística, e este sonho é antigo, vários pirajuenses trabalharam – ou trabalham – para trilharmos essa nossa vocação natural. Hoje sabemos que o progresso, tão esperado, somente poderá vir através da real implantação do turismo. E o nosso desenvolvimento turístico está diretamente relacionado com o rio, o rio veloz, de corredeiras, dos esportes de aventura, de nossas cachoeiras, trilhas, arborismo, prainhas, sítios turísticos que são capazes de atrair e conquistar turistas de muitas regiões do Brasil e do mundo.

A pista de slalom (esporte de corredeira) que funciona no Salto do Piraju é classificada por atletas e treinadores entre as de maior grau de dificuldade em todo o país, uma raridade para a prática do slalom, de acordo com os aficionados desse esporte. O auxiliar-técnico da Seleção Brasileira de Canoagem, Odilon Dias, já afirmou que o local representa uma das três melhores pistas de slalom-canoagem com obstáculos do Brasil. Dias elogia o trecho de corredeiras do rio Paranapanema em Piraju pela qualidade das águas e pela privilegiada beleza paisagística ao redor.

As trilhas na mata ainda são pouco difundidas e exploradas. O turismo ambiental de nosso município é caminho certo e lucrativo. Crescimento sustentável através do turismo ecológico.

Barrar o último trecho vivo do rio em nosso município significa pôr fim às expectativas de crescimento e geração de emprego para a cidade. É importante salientar que o município de Brotas/SP, com pouco mais de 21 mil habitantes, possui um rio de corredeiras e recebe em torno de 140 mil turistas, entre feriados, férias escolares e carnaval, a cada ano (BARROCAS, 2005). De acordo com a Abrotur (Associação de Empresas de Turismo de Brotas e Região), eles começaram a implantar o turismo em 1992, a partir da Eco Rio, e hoje possuem uma infraestrutura bem montada para o atendimento aos turistas.

Empresários se uniram, e onde havia poucos restaurantes e dois hotéis para viajantes, hoje contam-se 35 hotéis e pousadas, mais de 15 bons restaurantes, 9 agências operadoras e mais de 10 sítios turísticos. E ensinam que “a verdadeira vocação do nosso município é o turismo”, diz Evandro Frasoni, presidente da Abrotur.

E o município de Brotas, com a valorização do turismo de natureza, ecoturismo e turismo de aventura, através de rapel, bóia-cross, rafting, tirolesa e arborismo, arrecada aproximadamente 20 milhões de reais todos os anos, depois que foi consolidado seu destino turístico. (BARROCAS, 2005).

Piraju necessita das corredeiras para implementar efetivamente seu turismo. A sociedade é soberana para decidir sobre seu destino. Cabe à nossa população manter sua decisão, visto que o represamento atingiria somente terras do município. Pessoas de fora, que não vivem aqui, e que, de passagem, somente visam ao seu próprio lucro, não podem decidir por nós.

*Contato: adrianagarrote@ig.com.br




Foto: Fernando Franco - OAT

Seminário

SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO PARANAPANEMA
07 a 09 de novembro de 2011



O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranapanema - CBH-PARANAPANEMA, aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos em Brasília, através da Resolução CNRH n. 120/2010, encontra-se em fase de implantação e tem por objetivo aprimorar e integrar a gestão dos recursos hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Paranapanema, corpo d’água que une os Estados de São Paulo e Paraná.

O “Seminário de Integração do Paranapanema” visa articular e promover o diálogo entre os representantes dos poderes públicos, municípios, usuários e sociedade civil sediados na Bacia Hidrográfica para o processo de composição e instalação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranapanema.

Publico Alvo: Membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas dos Estados de São Paulo e Paraná, representantes dos usuários, da sociedade civil, dos municípios e dos órgãos governamentais com atuação na bacia hidrográfica do Rio Paranapanema.

Local de Realização: Hotel Aguativa Resort - Cornélio Procópio/PR

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PONTOS IMPORTANTES

- evento restrito, com público alvo e objetivos específicos;
- as vagas serão limitadas para cada um dos seis comitês de rios afluentes envolvidos na formação do CBH-Paranapanema;
- as vagas serão limitadas e distribuídas de maneira paritária entre os segmentos envolvidos na formação do CBH: Poder Público, Sociedade Civil e Usuários de Recursos Hídricos;
- o aceite da inscrição no evento depende da confirmação enviada ao interessado, sem este aceite a inscrição não terá sido efetivada;
- os interessados devem realizar a inscrição abaixo, aguardar a confirmação da inscrição, e, em seguida, entrar em contato com o hotel para realizar a reserva.

Divulgação


I Ciclo de Debates em Energia, Ambiente e Sociedade.


Confira a programação.

Local: Auditório localizado no prédio da Administração Central do Campus do Setor de Ciências Agrárias da UFPR
(Rua dos Funcionários, 1540, Juvevê, Curitiba PR)
Programação:
Dia 21 de outubro de 2011, 14hs:
As alternativas energéticas: vantagens, dificuldades, oportunidades.
Debatedores:
Fabio Rosa (Inst. para o Desenvolvimento de Energias Alternativas e da Auto Sustentabilidade – IDEAAS)
Frederico Reichmann Neto (Coordenador do Dpto de Energia da FIEP e Consultor de Energia da CBEMI – Construtora Brasileira e Mineradora Ltda.)

Dia 28 de outubro de 2011, 14hs:
A eficiência energética: desafios, possibilidades, perspectivas.
Debatedores:
Célio Bermann (Instituto de Eletrotécnica e Energia – USP)
Eloy Fassi Casagrande Jr (Programa de Pós-graduação em Tecnologia – UTFPR)

O evento é gratuito, mas dirigido a um número restrito de participantes, sendo os lugares no auditório marcados.
Por isso, solicitamos que confirme a sua participação e a dos membros de sua instituição até o dia17 de outubro. Serão fornecidos certificados de participação (8 horas).

Conselho do Meio Ambiente se reúne hoje na Prefeitura



O Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju - CMAPC, se reúne extraordináriamente hoje, a partir das 16h00, na sede da Prefeitura Municipal para tratar, entre outras coisas, da apresentação de leis referentes ao colegiado ambiental e requerimento do senhor Emílio Carlos Cardoso de Camargo, conforme edital anexo.

A reunião é pública, dela podendo participar todo cidadão pirajuense interessado nas questões de meio ambiente.

Assembléia Geral Ordinária

ORGANIZAÇÃO AMBIENTAL TEYQUE-PE - OAT


EDITAL DE CONVOCAÇÃO



O vice-presidente da ORGANIZAÇÃO AMBIENTAL TEYQUÊ-PÊ - OAT, no uso de suas atribuições legais e de acordo com o disposto no Artigo 14, parágrafo único, do Estatuto Social da OAT, vem por meio deste CONVOCAR todos os membros fundadores e sócios efetivos para a Assembléia Geral Ordinária, a ser realizada no próximo dia 01/10/2011, sábado, em primeira convocação às 18h00 e em segunda convocação às 19h00, na rua Pio Malagodi, 112, na Estância Turística de Piraju/SP, Estado de São Paulo, com a seguinte Ordem do Dia:

1. Eleição e posse da Diretoria Executiva e Conselho Fiscal;
2. Alteração do Estatuto Social;
4. Discussão e votação do Plano Estratégico de Ação Sócio-ambiental - 2012-2014;
3. Demais assuntos deliberativos ou não, mas de interesse da OAT.

Piraju-SP, 10 de setembro de 2011


FERNANDO FRANCO DA SILVA
Vice-Presidente
www.chegadeusina.com.br

Crise das PCHs

Pequenas hidrelétricas vivem criseClipping de notícia - extraído de LUIZ NASSIF ON LINE


Por André Borges | De Brasília
A julgar pelos investimentos bilionários despejados na construção de grandes hidrelétricas, tudo levaria a crer que a geração de energia captada nas águas dos rios vive hoje a sua melhor fase. Não é bem assim. O vigor de empreendimentos como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio tem ajudado a ofuscar uma crise que se instalou entre os projetos de pequenas centrais hidrelétricas espalhados pelo país. As chamadas PCHs, termo usado para definir usinas que geram até 30 megawatts (MW), atravessam um momento difícil, uma situação sem data para acabar e que, segundo especialistas e empreendedores, é resultado da falta de estímulos fiscais e de uma burocracia capaz de manter um projeto por anos na gaveta.

A paralisia das pequenas hidrelétricas ganhou traços mais nítidos no mês passado, quando nenhuma das 27 PCHs habilitadas no leilão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) conseguiu fechar negócio para oferecer energia daqui a três anos.
A frustração é simples de explicar, diz o secretário-executivo do Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas (CERPCH), Thiago Filho. "Os custos atuais para construção e operação de uma PCH não permitem que ela se torne viável com uma oferta inferior a R$ 140 o MW/hora, enquanto o valor pago nesse último leilão ficou abaixo de R$ 102 o MW/hora", afirma.
Os empreendedores culpam a falta de incentivos do governo e o tratamento indiferente dado às PCHs. Embora elas estejam enquadradas no rol das fontes alternativas de energia, não contam com as mesmas benesses garantidas à geração eólica e às usinas de biomassa, que tiveram suas alíquotas de ICMS zeradas. Para as usinas de vento, inclusive, o governo também abriu mão do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI).
"Na hora de fechar a conta, vemos que uma PCH paga 15% a mais de imposto que uma usina eólica. Dessa forma, fica impossível ter qualquer competição", diz Luiz Antonio Valbusa, sócio da Semi Industrial, empresa que fabrica equipamentos para pequenas hidrelétricas.
Atualmente, há 402 PCHs em operação no país, as quais respondem por 3,20% da capacidade nacional de geração, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Centenas de outros projetos estão em análise dentro e fora da Aneel, mas o futuro desenhado para as PCHs não é nada estimulante, como refletem os dados do Plano Decenal de Energia (PDE). Esse plano, que é atualizado anualmente, projeta a demanda de energia e a capacidade de geração do país para os próximos dez anos. Até o ano passado, o PDE previa que a energia gerada pelas PCHs cresceria 72,3% entre 2010 e 2019, atingindo 6.966 MW. Trata-se de um crescimento, basicamente, vegetativo, mas a situação ainda ficou pior. Na versão deste ano, o PDE reduziu a taxa de crescimento das PCHs para 69,4%, com geração de 6.047 MW.
Até o fim deste ano, o potencial de geração das pequenas hidrelétricas atingirá 4.201 MW, enquanto as eólicas somarão uma potência de 1.283 MW. Daqui a dois anos, porém, as usinas de vento já terão superado a capacidade das PCHs, gerando 5.272 MW, diante de 4.376 das PCHs.
"Temos de admitir que há um desalento generalizado com as PCHs", diz Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), organização que também tem empreendimentos eólicos e de biomassa entre seus associados. "Entre os investidores não tem segredo, eles apostam no que consideram mais atrativo. Por isso, tem muita gente abandonando a PCH para investir nas eólicas e em biomassa", afirma Lenzi.
Além de ter uma energia com preço nada competitivo, as PCHs sofrem com o excesso de burocracia na aprovação dos projetos. Para participar de um leilão de energia, por exemplo, uma usina eólica ou de biomassa tem de apresentar apenas um estudo de viabilidade técnica à Aneel, enquanto a PCH precisa submeter um projeto básico à agência e, só depois de ter esse estudo aprovado, ir atrás da habilitação para participar da disputa.
A participação em leilões do governo não é garantia plena de sucesso, o que leva a maioria das PCHs a oferecer sua energia para o mercado livre, onde se negocia diretamente com grandes clientes. Um levantamento feito pela Abragel aponta que, entre 2005 e 2010, apenas 24 PCHs tiveram êxito em leilões, com a venda de 228,1 MW. Por outro lado, as eólicas, só em 2009 e 2010, fecharam 141 projetos com capacidade de geração de 1.678 MW.
"É verdade que as PCHs nunca tiveram um desempenho muito favorável nos leilões, mas temos percebido uma perda de competitividade muito forte", diz Charles Lenzi, da Abragel.
Atualmente, há mais de 500 projetos de PCHs em trânsito na Aneel, aguardando - muitos deles por anos a fio - uma resposta final da agência. São muitos os casos em que a demora na aprovação de projetos mina o interesse do investidor, que desiste da empreitada e parte para outro negócio.
No discurso, o governo defende os projetos de PCHs. As pequenas usinas têm vantagens, como o fato de serem pulverizadas pelo país, o que diminui custos com a instalação de grandes linhas de transmissão. Elas também são garantia de abastecimento regional, o que alivia o sistema nacional. As PCHs funcionam com turbinas a "fio d'água", modelo que dispensa forte queda de energia e que tem menor impacto ambiental. Além disso, essas usinas contam com uma indústria de equipamentos, operação e manutenção 100% nacional.
"Temos cobrado políticas que sejam isonômicas para fontes renováveis. Não temos nada contra outras fontes, pelo contrário, todas precisam crescer, mas o governo tem de dizer se PCH é importante ou não para a matriz do país", comenta Charles Lenzi. "Até porque, se elas não forem, o empreendedor precisa saber disso", completa

O Surubim pirajuense, uma aventura de 15 milhões de anos

O rio Paranapanema tem como data comemorativa o dia 27 de agosto. Ele representa o nosso patrimônio primeiro, nossa cidade se desenvolveu a partir dele. Preservá-lo é determinante para o nosso futuro.

E não somente o futuro turístico depende desse respeito ao rio, mas a garantia de sobrevivência de outras formas de vida, principalmente, as aquáticas. Do ponto de vista da riqueza ecológica, os peixes necessitam das corredeiras para a época da piracema. E sem corredeiras não há desova, e sem desova não haverá mais a piapara, a tabarana, o pacu, a piracanjuba, e o dourado, peixe símbolo de nossa cidade. O Salto do Piraju, a popular Garganta, devido às corredeiras, possui em suas águas esta importante diversidade de peixes. Inclusive o surubim, espécie rara e endêmica — de 15 milhões de anos —, um peixe pré-histórico. Endêmico quer dizer que esta espécie de surubim só existe ali e em nenhum outro lugar do planeta.

Percorrendo nossas corredeiras há 15 milhões de anos, o surubim já consta da lista de animais ameaçados de extinção, ao mesmo tempo em que foi catalogado pela ciência, conforme laudo expedido pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 27 de junho de 2002.
O Museu Nacional acumula registros de ocorrências de peixes brasileiros há mais de um século e, segundo o professor-doutor Paulo Buckup, o surubim está catalogado como MNRJ 22742, e isto evidencia a raridade da sua espécie. O professor afirma, ainda, que Piraju é a única localidade do rio Paranapanema em que esta espécie ocorre. E prossegue: (...) se esse trecho do rio for barrado, o peixe simplesmente será extinto no Paranapanema. Como todas as espécies do gênero, este peixe depende da existência de corredeiras sobre fundo de pedras para sobreviver, de modo que o barramento dos rios causa a sua eliminação, assim como de várias outras espécies de peixes que dependem da existência de corredeiras (...).

O surubim pirajuense é “muito importante” para a ciência. Pertence à família Pimelodidae, ao gênero Steindachneridion, e foi identificado como representante da espécie Steindachneridion scriptum, cuja identificação é de caráter provisório, ‘pois trata-se de material muito raro em coleções ictiológicas’, espécie ainda desconhecida para a ciência. Ele possui a cabeça achatada, como o fundo do rio, nivelado, estreitado. O exemplar foi examinado em 2002 pelo professor Alberto Akama, mestre em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

No momento, o que esses estudiosos sugerem é a adoção de medidas que visem à conservação deste trecho de corredeira do rio. Se não for possível essa preservação, se o barramento acontecer, ocorrerá a extinção de uma espécie de excepcional valor biológico, antes mesmo de ser completamente descrita pela ciência. (BUCKUP, 2002).

O surubim pirajuense é uma espécie de peixe de couro que se diferencia dos que ocorrem no Pantanal, na Amazônia e no Rio São Francisco – estes pertencem ao gênero Pseudoplatystoma. Possui um colorido reticulado muito bonito no dorso — de onde advém o nome scriptum. A cabeça achatada é indício de que habita o fundo do rio (pois o relevo do Paranapanema é estreito, como um funil). Se parece com um jaú alongado e de cabeça chata. É um dos maiores peixes do rio, e seu porte, quando adulto, pode atingir até um metro de comprimento e mais de quinze quilos. Fósseis desse gênero foram encontrados na região de Tremembé, São Paulo. Sua idade é calculada em 15 milhões de anos, aproximadamente.

Segundo o professor Akama, embora o surubim tenha resistido milhões de anos, hoje o homem é a sua mais séria ameaça, pois esta espécie se encontra extremamente ameaçada de extinção, e as corredeiras estão localizadas em regiões densamente povoadas, onde os rios sofrem com a poluição e, principalmente, são barrados para a produção de energia elétrica.
Fica a pergunta: o que é mais importante preservar, o habitat ou a espécie?

Na realidade, quando conservamos o ambiente natural, todas as espécies ficam protegidas. E mais, conservar o habitat é a única possibilidade de efetivamente se conservar espécies. (ROCHA et al., 2002. p. 255-267).

Adriana Garrote Paschoarelli, ambientalista e pedagoga pirajuense

Ambiente: por que não conseguimos ver?


O homem modifica seu meio de modo degradado, em razão da falta de aplicação de uma política ambiental efetiva, ou seja, a lei existe, mas não é cumprida. O que há, ainda, é uma política de que o homem é o centro do mundo (antropocêntrica), e, portanto, utiliza o ambiente de modo impensado, irrefletido, visando apenas às suas necessidades momentâneas. (DIAS, 2001, p. 215).

É preciso rever nosso modo de vida em relação ao planeta Terra, na relação com o lugar em que vivemos. É preciso uma verdadeira mudança nos hábitos e costumes, na maneira como lidamos com o que é patrimônio básico para a vida humana: a água, a terra, o ar. Temos de repensar a atitude para com tudo o que nos rodeia. Há que se frear essa maneira "inconsequente" de viver, agimos como se fôssemos a última geração a passar pelo planeta, sem respeito, cuidado ou zelo para com o que existe à nossa volta. É imperioso que reflitamos sobre nossos atos e atitudes diante da vida. Vivemos sem responsabilidades para com o mundo. (PARÂMETROS, 1998, p. 176-177).

O sistema sob o qual vivemos determina nossos anseios em relação às nossas reais necessidades. Impõem-nos um modelo de vida de forma a não termos tempo para tantas reflexões e, muitas vezes, acabamos por agir sem questionar. Expressamos nossos pensamentos sem muita certeza do que realmente nos importa. E, por esse caminho, somos levados a consumir de maneira desenfreada, irrefletida, apenas para satisfazer nossos impulsos condicionados, que movimentam tantos interesses. É visto que neste modelo de desenvolvimento a energia elétrica é, sem dúvida, um dos principais alicerces, por isso, não é de hoje que convivemos com as pressões pela necessidade de geração de energia elétrica.

Alegar a crescente demanda para justificar a construção da usina que selará para sempre nossos anseios de um crescimento pautado por nós, escolhido pela nossa sociedade, não se sustenta, pois o problema energético no Brasil é muito mais profundo, e suas dimensões ultrapassam em muito a parcela que seria acrescentada. Já em perdas ambientais, históricas, de memória, culturais e do nosso futuro sustentável, essas são irreparáveis, simplesmente não possuem um valor que possa ser negociado, vide as lições do chefe Seattle: ... como é que pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?

Como diz o ‘alerta dos cientistas do mundo à sociedade’, com as assinaturas de 1.600 cientistas em 18 de novembro de 1992: se quisermos parar a destruição do meio ambiente, devemos impor limites a esse crescimento... ( ) Devemos reconhecer a capacidade limitada da Terra em sustentar a espécie humana. Devemos reconhecer a sua fragilidade... ( ) (DIAS, 2001, p. 381) .

O Brasil está sofrendo um dos momentos de maior degradação ambiental, algo jamais visto. E é preocupante, pois não há como reverter esse processo para se tentar não oferecer às gerações futuras um país totalmente destruído. A degradação está em todas as áreas. É imperante que se volte às questões do meio ambiente. O consumismo está em seu pico e, com esse consumo exagerado, não há como o ambiente se renovar. É necessário refletir em todos os momentos e verificar quando realmente é preciso comprar. (CORREIA – site O Eco, 2005).

É preciso pensar que existimos através de um corpo físico, em um planeta também físico, e desconsiderá-lo é negar a nossa própria existência. A definição mundial é que não basta desenvolvimento, é preciso conservação e preservação da natureza, não somente por nós, mas para os que virão depois de nós.

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga, integrante da OAT

Foto: Fernandinho Franco/OAT

Legenda:
Rio Paranapanema em Piraju: patrimônio ambiental tombado pelo povo

Parque do Dourado, um lugar para estar

Nesta semana fui com a minha turma de 4º ano para um passeio ecológico pelo Parque do Dourado. Batizado de Parque Natural Municipal do Dourado, possui grande riqueza ambiental e de fauna e flora.

Fomos recepcionados pela Ariane, do Departamento de Meio Ambiente, e pelo Dirceu, que orienta e cuida da conservação e serviços do parque. Logo na chegada, ao descermos do ônibus, fomos surpreendidos pelo Max, cachorro muito alegre e amigo das crianças. Como é bom ser bem recebido!
Esse nosso lugar, que é uma Unidade de Conservação e Proteção Integral, está muito bem cuidado.

Reflorestamento acontecendo em vários estágios de desenvolvimento, preservação das matas, com uma vegetação exuberante, respeitando-se os ecossistemas naturais. Pudemos ver que, a cada árvore caída naturalmente, sossegadamente é resguardada sua transformação, seja em um novo vegetal, base para plantas aéreas, ou na decomposição. O rio que corre veloz, as corredeiras onde vivem espécies “extremamente” ameaçadas de extinção, a umidade e perfume no ar – quais serão as flores responsáveis por cada fragrância? Garças, pica-paus, pássaros variados e multicoloridos, é um ambiente que acolhe e regenera.

Há que se ficar ali, parado, a apreciar a beleza do lugar. No local, a uniformidade não tem espaço, cada árvore tem uma função estabelecida. As das margens seguram e protegem as barrancas dos processos erosivos, e resguardam a qualidade das águas. Outras caem por cima, e existem vários ângulos a serem observados e interpretados naquela natureza sem padronização. Tanto nas matas como nas corredeiras.

Através de parcerias (com universidades ou não), é possível catalogar cada exemplar de vegetação com uma placa de identificação. As crianças iriam anotar as que lhe interessassem, e então buscar as informações sobre cada espécie que tenha chamado sua atenção. José Carlos Garcia faz, em seu trabalho voluntário, a catalogação dos animais presentes ali.

“- Olha lá, professora!”, foi ouvido como entusiasmo, curiosidade, admiração, espanto e alegria. Sair da escola, percorrer trilhas, observar a natureza em suas nuances, nos sentimos numa outra proporção - quando estamos fora da sala de aula, em contato com a natureza, até o nosso tamanho é outro – e aquele silêncio interno, tão necessário, fica bem mais fácil percebê-lo.
Tivemos palestra de educação ambiental, caminhamos, observamos, conversamos, aprendemos e sentimos. No parque há árvore que é preciso três ou quatro para abraçá-la. Há também espaço para recreação: acampar e fazer churrasco com a família, balanços, gangorras, escorregador. Em cada quiosque há um grande latão de lixo. É claro que só deixaremos lá o orgânico, porque este vai para a vala do aterro, e o reciclável, trazemos de volta para o saco vermelho (ou será rosa?).
Com a pesca, é possível também práticas econômicas compatíveis com a proteção e preservação necessárias. Várias famílias tiram dali seu sustento.

O turismo ecológico é o grande filão do futuro, onde as pessoas sairão dos grandes centros para estar em locais de beleza única e preservados. Nossa cidade conquistou o título de estância turística em 2002, e esse título é fruto da vontade política e também do desejo da população de desenvolvimento da cidade através do turismo. Turismo de nossas diferenciações: lagos de represas várias cidades têm, e temos também. Já o ecológico, com trilhas, matas, corredeiras e parque, somente nós.

O turismo ecológico, e do futuro, por si só garantirá a proteção desse nosso patrimônio arqueológico, histórico-cultural e ambiental-paisagístico, pois dessa proteção e preservação sairá o sustento de nossa sociedade.
“- Professora, voltarei aqui com meus pais”. Não moramos em uma cidade grande, onde para termos mais contato com a natureza é preciso percorrer longas distâncias. Temos, sim, é que desligar a tevê e sairmos para aproveitar e conhecer, (sentirmos) de verdade, nossas belezas naturais.

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense, integrante da OAT
contato: adrianagarrote@ig.com.br

Foto: Fernandinho Franco - OAT

Legenda: Parque do Dourado: a natureza de uma forma singular



Rio Paranapanema, nossa memória viva


A agenda 21 é um documento elaborado como resultado dos trabalhos ocorridos durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, no qual os países participantes se comprometeram em refletir e cooperar na busca de soluções para problemas sócioambientais.

Este documento aponta para a necessidade de reconduzir as discussões da sociedade para um novo paradigma, uma nova interpretação do que precisamos, de fato, para a sobrevivência nossa e do planeta. Inclui-se nestas ações a inclusão social através da educação e saúde, passando pela ética política, e engloba as áreas onde a ação do homem impacta o ambiente.
O ponto central deste documento assinado em 1992 é que a sociedade local seja não somente ouvida e considerada, mas que ela própria se autoconduza, que ela mesma determine seus passos e o rumo a ser tomado.

A sociedade pirajuense, preocupada com seu destino, criou leis para assegurar a integridade do último trecho natural de rio vivo, que fica dentro de nosso município, e determina o futuro que pretende para o desenvolvimento local, que é o turístico.
Conforme determina a Agenda 21, Piraju, pautando-se pelos acordos ambientais firmados internacionalmente, estabelece o Plano Diretor, em lei de 2004, que rege o município e declara o leito natural do Paranapanema como Zona de Urbanização de Interesse Ambiental, cuja área deve ser valorizada e preservada em suas características ambientais e paisagísticas. Assim, é vedado o uso industrial, empreendimentos agroindustriais, usinas hidroelétricas e o parcelamento de solo para fins urbanos.

Em 2002, aprova-se lei municipal que determina o interregno de 20 anos para a construção de outra usina no município, para que se fosse possível analisar, de fato, os impactos destes tipos de obras em nosso ambiente. Apesar da lei, em nenhum momento estivemos fora do assédio de um ou outro grupo com olhos e vontade voltados a barrar nosso patrimônio primeiro.
Criou-se, também em 2002, o Parque Natural Municipal do Dourado como Unidade de Conservação e Proteção Integral, de posse e domínio públicos do antigo Posto Agropecuário Municipal, que, com área de 48,40 hectares, é habitado por espécies ameaçadas de extinção. Além da preservação dos mais variados ecossistemas naturais, de grande importância ecológica e beleza cênica, o local está destinado à realização de pesquisas científicas, ao desenvolvimento do turismo ecológico, atividades de educação ambiental, recreação, contato com a natureza.

Estabelece ações e práticas econômicas compatíveis, sem degradações, e protege as barrancas dos processos erosivos – e a qualidade das águas. A proteção se estende ao patrimônio arqueológico, histórico-cultural e ambiental-paisagístico do entorno. A comunidade pirajuense (e seus muitos visitantes) frequenta o local. No domingo do último feriado, contaram-se 380 pessoas no do Parque do Dourado.

Criado o parque, o Conselho Municipal do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural aprova o tombamento do rio Paranapanema (2002), patrimônio ambiental do município, um segmento de canal natural dotado de elementos de valor cênico, paisagístico e cultural para a comunidade.

A lei do tombamento é ato legítimo de proteção e representa o reconhecimento formal, pela nossa comunidade, da importância do último trecho de canal natural do rio Paranapanema. E assim, assegurou-se a preservação do trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão das Araras, onde está o Salto do Piraju, com seu valor cênico, sua riqueza histórica e cultural, pois é lugar de nossa memória, vinculado às origens do aldeamento que dá nome ao município. Ter cidadania significa possuir identidade, ser de um determinado local. O Salto do Piraju é nossa certidão de nascimento, nossa carteira de identidade, nossa memória viva!

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense e ambientalista integrante da OAT-Piraju

contato: adrianagarrote@ig.com.br


Foto:Fernando Franco - OAT
contato: fernandopiraju@hotmail.com


Legenda: Piraju: opção pelo meio ambiente, turismo e esportes náuticos

Nossa história com esse rio



Segundo José Luiz de Morais (1997), em torno de 1630 nossa terra era povoada pelos índios guaranis catequizados por jesuítas espanhóis, pois éramos terra espanhola através do Tratado de Tordesilhas. Os índios guaranis vindos do rio Paraná rumavam para o leste em hordas messiânicas, pois procuravam “a terra sem mal”, que seria um “paraíso mítico que devia ficar perto do mar”. Lugar especial e importante, aqui, Teyquê-pê, para os guaranis, era o "Caminho da Entrada" para o Peabiru, trilha indígena que levava até o Peru.

O nome Teyquê-pê (palavra guarani composta por Teyquê – entrada, e pê - caminho) foi corrompido para Tijuco Preto, devido a possível semelhança fonética, pelos caixeiros viajantes e outros cometas (comerciantes que percorriam lugares distantes, cidades, povoados, com suas mercadorias em lombo de burro) que cruzavam esses caminhos.

Subiram pelo rio Paranapanema muitos Caiuás, que se dividiram em dois grupos. O outro grupo prosseguiu subindo o Itararé. Os que ficaram fixaram-se nas imediações do Tijuco Preto, estabelecendo ali a sua aldeia – a Aldeia Piraju. Assim, através da instalação de uma aldeia indígena nas proximidades do ainda inexistente lugarejo Tijuco Preto, ocorreu o primeiro fato, os primeiros passos no caminho da origem de nossa cidade. (LEMAN, 1966, p. 40).

Segundo Camargo, Piraju é o verdadeiro e primitivo nome porque a aldeia dos Caiuás, que aqui se estabeleceram por volta de 1845, era denominada ‘Pi-rã-yu’, cujo significado em Guarani é fundo do rio "nivelado, estreitado", e Piraju, segundo Leman, com a pronúncia somente parecida com a que usamos, significa, em Guarani, peixe amarelo, o dourado, e foi assim oficializado, conforme afirma Leman (1966). Em 20 de agosto de 1892 foi a ascensão a Comarca, e em 20 de janeiro, no dia do padroeiro São Sebastião, é quando se comemora o aniversário. (CÁCERES, 1998, p. 13).

No tempo em que estudei no ensino fundamental era-nos apresentado uma geografia fragmentada, em partes. A paisagem estudada era delineada por um morro com verde gramado e uma árvore. Bem distante de nós. Não havia identificação pessoal. Bem mais tarde, já nos bancos de terceiro grau, me deparei com uma geografia bem diferente, uma geografia viva!

Na paisagem é que estão inseridas as marcas da história de uma sociedade. E lugar é o espaço onde as pessoas criam vínculos afetivos e subjetivos. Cidadania não se resume a direitos e deveres, há o “sentimento” de fazer parte de um local, de estar afetivamente ligado, ser responsável e comprometido historicamente. Somos parte integrante do ambiente de nossa cidade, conforme descrito pelo Pcn-Geografia (1997).

Nossa origem está ligada ao Paranapanema, e não é à toa quando Zocchi cita que, de todo o curso do rio, da nascente à foz, somos a comunidade mais irmanada com o rio (ZOCCHI, 2002, p. 52). Seu leito está cravado no meio de nossa cidade. Fazemos parte de seu trajeto e ele, de nossas vidas.

Segundo os Parâmetros (1998), a história e cultura de uma comunidade é o que a sustenta, alicerça-a, fá-la prosperar e se tornar reconhecida. Preservar é o maior respeito que se pode oferecer a um lugar. Sem referência, o homem perde também a confiança em si mesmo. Compreender a memória é reconhecer nossa própria construção.

Os Pcn’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) apontam a direção a ser seguida por cada disciplina em nosso país. Dentro da educação ambiental, temos como literatura obrigatória o PCN Meio Ambiente, o qual expressa muita preocupação em relação ao modo como estão sendo tratados os recursos naturais e culturais no Brasil.

De acordo com o texto, existe um real descaso com o ambiente no momento em que retiram o que necessitam para sua produção, seja agrícola, industrial, comercial. Muitas vezes, o lucro existe somente para um grupo econômico, e não é raro residirem bem distante do local, carregando consigo toda riqueza, e, no lugar, acabam deixando uma degradação ambiental, que fica muito caro tanto aos cofres públicos como para a saúde da população. (PCN Meio Ambiente, 1997, p. 25).

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense e integrante da OAT

E-mail: adrianagarrote@ig.com.br

Foto: Fernando Franco
Legenda: Rio Paranapanema, em Piraju: uma história de luta e preservação da nossa origem



Ourinhos proíbe usina hidrelétrica em seu território

Trecho tombado do Rio Paranapanema em Piraju: exemplo seguido pela região.
Foto: Fernando Franco (OAT)
A cidade de Ourinhos dá show de consciência e cidadania e segue Piraju: proíbe a construção de usinas hidrelétricas nas áreas de seu município. A Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei municipal nº 94/2011, de 6 de julho, proibindo a construção de Usinas Hidrelétricas (UHE) e Pequenas Centrais Elétricas (PCH) no leito do Rio Pardo em seu município. O Legislativo de Santa Cruz do Rio Pardo também já aprovou lei semelhante e os vereadores de Canitar estão com reunião agendada para discutir essas questões. Neste momento, as comunidades e suas autoridades reagiram rapidamente para assegurar a preservação do rio Pardo.

Não é à toa que toda a nossa região vem se mobilizando em defesa de suas riquezas naturais. Hoje, não podemos ‘achar’ que empreendimentos desta natureza trazem desenvolvimento sustentável para a localidade. Já está comprovado, hoje existem muitos estudos científicos demonstrando que esta forma de geração de energia implica grandes e irreversíveis prejuízos. Nossa região não aceita mais.
O professor doutor Jurandyr Ross, em seu artigo científico “Hidrelétricas e os impactos sócioambientais”, avalia profundamente os impactos causados ao ambiente durante todo o processo de instalação de um reservatório. Algumas das conseqüências imediatas do início da construção de um barramento são desmatamentos para abertura de estradas, instalação de canteiros de obras, de alojamentos, terraplenagem para instalação de serviços de apoio (cortes e aterros, interceptação de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação). Há intensificação da caça e pesca nos arredores do empreendimento, o que pode levar ao desaparecimento local de espécies animais.

Ross também aborda as transformações no meio socioeconômico: disseminações de doenças, elevação dos preços de terras e residências e desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico. Doenças, pois a água parada do reservatório é um estímulo ao aparecimento de vetores das febres de propagação hídrica, como leishmaniose, febre amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite.
Nesta fase da construção, o comércio é incrementado com o aumento da população, o que eleva também o preço das terras e residências, aumento do custo de vida para a população local (aluguéis, compra de imóveis rurais e urbanos). O problema é que depois da fase de enchimento e operação do reservatório, com o término da construção, as alterações não são somente no meio físico e biótico. Com o desaquecimento da economia local, os preços permanecem nas alturas e o custo de vida se mantém alto. Não desaquece com a finalização dos trabalhos. (ROSS, 1999, p.24-27).

Na justificativa do projeto de lei da Câmara de Vereadores de Ourinhos, alguns argumentos são relevantes. As matas das margens já se encontram estabilizadas. A retirada dessa micro e macrovegetação, que leva à extinção das espécies vegetais e animais que ali residem, causa, ainda, a liberação do estoque de carbono para a atmosfera. Os vereadores alertam que “(...) devemos considerar que esta fonte de energia (hidrelétrica) não é limpa, uma vez que, na implantação, é preciso desviar o rio, criando um novo leito artificial, provocando o movimento de grandes massas de solo e rochas. Isto causa erosões e assoreamentos no leito do rio à jusante, assim como grande destruição e modificação do ambiente natural, com relação à fauna silvestre (micro e macro), à flora, à água e aos solos”.

As comunidades de nossa região estão buscando informações e percebendo que, ao contrário do que sempre se pensou, projetos de aproveitamento hidrelétrico, sejam pequenos ou grandes, trazem mais prejuízos do que vantagens. Hoje, o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a biomassa apresentam efetivamente mais sustentabilidade. São o futuro.

Adriana Garrote Paschoarelli
pedagoga pirajuense
integrante da Organização Ambiental Teyquê-pê (OAT)

e-mail: adriana.garrote@ig.com.br

Barragem: impactos que não têm volta


No ano em que preparei meu tcc (trabalho de conclusão de curso - link aqui), tive acesso ao artigo científico escrito por meu orientador, e publicado em revista científica. O estudo relata o destino, os resultados colhidos pela cidade de Salto Grande (SP) após 40 anos da instalação e funcionamento da usina hidrelétrica.
A construção durou de 1949 a 1958 e movimentou a cidade, gerando muitas esperanças de desenvolvimento para a comunidade com o comércio movimentado, ao mesmo tempo em que perdia DEFINITIVAMENTE suas cachoeiras.
Desde o período de construção do barramento até hoje, a cidade passou da euforia ao esquecimento. Quarenta anos depois, convive com inúmeros problemas ambientais gerados pela barragem.
O desenvolvimento, que deveria acompanhar e possibilitar o crescimento da cidade, na verdade, movimenta os grandes centros urbanos. Sai a energia das águas de Salto Grande e vai desenvolver as cidades mais prósperas do estado, deixando inúmeros problemas ambientais àquele município. O que ficou foi a degradação, a erosão das barrancas, uma água cada vez mais insalubre. O déficit ficou, o prejuízo.
O represamento das águas trouxe construções irregulares às margens, o que agrava a contaminação das águas, e também a eliminação da mata ciliar contribui para o assoreamento da represa.
É preciso saber que os barramentos acarretam transformações no meio ambiente que são definitivas, são para sempre. E que não há volta. Por isso, nossa responsabilidade é grande. Não haverá como desistir e tentarmos recuperar o que foi perdido. É importante saber que estamos definindo o futuro de nossa cidade.
A qualidade da água do reservatório é diretamente afetada pelos esgotos domésticos, pelos esgotos industriais, pelos fertilizantes agrícolas, materiais particulados de origem industrial. A atividade de exploração das mineradoras também é fator determinante no resultado da qualidade da água, pois foi examinado e há irregularidades, desde a obtenção da autorização da licença ambiental aos maquinários em péssimo estado de conservação, às faltas de equipamentos que acomodam a areia retirada, que acaba voltando ao reservatório.
Interferem também nessa qualidade da água a parte de recreação pela população local e das cidades vizinhas, como Ourinhos. Os ranchos nas margens da represa.
Antigamente, o que era visto como possibilidade de crescimento e desenvolvimento do local, hoje, após quarenta anos, os resultados são perdas: perda da área urbana desfigurada pela mudança da ferrovia, perda pelo não avanço industrial, perda de um futuro turístico pelas grandes cachoeiras, perda de parte da população, que necessita viver em outros centros.
As heranças deixadas pela usina para Salto Grande foram grandes problemas ambientais de difíceis soluções, pois implicam em altos investimentos e muito tempo para ser contornados. No momento, o poder público estuda saídas no sentido de contornar os problemas, como aumentar a compensação financeira e implementar o turismo aproveitando as águas do reservatório. (VARELLA, 2003, p.11).
Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense.

JÁ TEMOS MUITAS USINAS. NÃO PRECISAMOS DE MAIS


CONSTRUÇÃO DE USINAS HIDROELÉTRICAS NO RIO PARDO – AFLUENTE DO RIO PARANAPANEMA – EM SANTA CRUZ DO RIO PARDO – CIDADE VIZINHA DE PIRAJU.



Chega de Usina em Piraju: Poemas

Chega de Usina em Piraju: Poemas: "Confira o original digitalizado da Pira da Piracema de autoria de Miguel Pereira que bem retrata nossa luta. Também digitalizado, Paranapan..."

Prefeito e Vereadores defendem a integridade do rio

No mês de abril, o prefeito Francisco Rodrigues, e o vereador Luciano Louzada – juntamente com todos os vereadores de nossa cidade – enviaram ofícios à ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, órgão do governo federal – para que se encerrem definitivamente os estudos para o represamento e implantação de hidroelétrica no último trecho de rio vivo em nosso município. [veja nos links a seguir o teor dos ofícios: [Link Para o Ofício do Prefeito     e      Link para o ofício dos Vereadores]
Se produzir energia elétrica trouxesse desenvolvimento para nossa comunidade estaríamos, sem dúvida, nadando de braçadas, pois temos quatro aproveitamentos hidroelétricos. Isto é preciso enxergar!
Sequer há qualquer isenção para o consumo de energia elétrica de nossas entidades assistenciais e instituições, como Apae, hospital, asilo, creches, escolas, entre outras. A prefeitura também não se beneficia com nenhuma isenção, quiçá todos os nossos habitantes. Somos um dos municípios mais usinados do planeta.
O que vemos é que, para conseguir o que pretendem, os barrageiros se utilizam de várias estratégias, como a mais conhecida, a do “fato consumado”, que reza não haver como lutar contra o dinheiro e o poder que eles possuem, e que já está decidido e consumado – é pura balela!
 Se antigamente era considerado fator de progresso, hoje a utilização de hidrelétrica não traz nenhuma euforia para a comunidade. Sabemos que não haverá desenvolvimento com mais uma usina instalada. A partir da última negociada (a de 2002, no Salto dos Aranhas), fomos obrigados a conviver com o prejuízo, o déficit ambiental, a erosão das barrancas, o descaso com o reflorestamento do entorno, a poluição de nossas águas, a urbanização instalada na beirada da represa, o assoreamento, a queda da qualidade da água, as doenças, dentre outros passivos.
É de se admirar que, mesmo com toda a nossa sociedade, legislação, autoridades afirmando NÃO a esse empreendimento, eles continuem como se não fôssemos nada diante das necessidades deles! É desconsiderar demais o povo que aqui vive!
Queremos respeito! Temos nossos próprios planos para com o destino da nossa terra: o real desenvolvimento através do turismo, e de nossas corredeiras naturais, o que nos garantirá, isto sim, possibilidade de não possuirmos um futuro de administração de passivos ambientais, que geram altos custos e longos prazos para recuperação. Isso se a municipalidade da época tiver como arcar com os valores altos. Digo isto porque a empresa instaladora e geradora de energia não cuida dos inúmeros problemas ambientais, esses passivos gerados pela barragem. Só retiram o lucro da geração da energia, e fica para as futuras gerações conviver e gerir todos esses problemas que, em muitos casos, não há solução, devido aos altos custos, demora e tecnologia para serem resolvidos.
Temos sim é que nos orgulharmos de nossa sociedade, de nosso povo, que a todo instante se defende dos assédios de empreendimentos que visam somente à geração própria de lucros. Esperamos que agora, com estes ofícios do prefeito e dos vereadores, e reiterados pedidos da população, possamos realmente trabalhar, e investirmos em nosso potencial turístico, que é o que nosso povo merece de verdade.
Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense.
adrianagarrote@ig.com.br