Obra anunciada pela prefeitura como contrapartida da Sabesp está em fase de estudos
No final de novembro de 2017, o prefeito de Piraju, José Maria, anunciou à imprensa as contrapartidas solicitadas à Sabesp para a renovação do contrato por mais 30 anos. Dentre elas, estava a canalização do Ribeirão Boa Vista, trecho da Rua Mário Rueda, com custo estimado em R$ 350 mil.
Canalizar um ribeirão do porte do Boa Vista em área urbana pode causar uma série de danos para todas as pessoas que vivem ao longo de todo o curso d’água – essa é a opinião de Antônio Meira, engenheiro florestal, especialista em gestão e tecnologias ambientais e ex-diretor de Meio Ambiente da prefeitura.
“Um projeto desses precisa ser moderno, bem adequado e multidisciplinar, elaborado em conjunto com urbanistas, ambientalistas e engenheiros civis para a parte de cálculo e estrutura”, comenta Toni. Para ele, o ideal seria a prefeitura pesquisar escritórios com expertise na área, listá-los e disponibilizar a lista para a Sabesp, propondo que a empresa de saneamento escolha um deles para projetar a obra do Boa Vista.
ENCHENTES
De acordo com o engenheiro florestal, canalizações fechadas não são recomendadas nem praticadas atualmente porque são sinônimos de enchentes. Grande exemplo disso é a cidade de São Paulo, que canalizou uma série de seus cursos d’água e, graças a isso, sofre alagamentos sempre que chove.
Países desenvolvidos, como a Coréia do Sul, chegaram até a desfazer algumas canalizações em córregos para pôr um ponto final nas enchentes que enfrentavam por decorrência disso.
No caso de Piraju, o trecho do Boa Vista que se pretende canalizar recebe, quando chove, água da região do cemitério, da Avenida São Sebastião, da Codespaulo, das estradas de Tejupá e Sarutaiá e de vários morros do entorno. Com o ribeirão canalizado, essas águas não teriam para onde escoar e, na certa, provocariam enchentes, prejudicando seriamente quem vive na proximidade do ribeirão, especialmente a população das áreas de risco.
CANALIZAÇÃO ABERTA
Para Toni Meira, até mesmo a canalização lateral pode ser perigosa se não feita com muito cuidado e estudos, isso porque pode aumentar a velocidade da água do Boa Vista. “O bairro da Várzea não tem esse nome por acaso. Aquele lugar é uma várzea de verdade, que na natureza tem a função de filtrar e diminuir a velocidade de água. Quando se faz a drenagem ou se canaliza um curso d’água, a várzea perde essas características e aumentar a velocidade da água pela mão humana é perigoso, pois além das enchentes, isso pode danificar as pontes e paredes de habitações do entorno.
“A ideia de criar uma área de lazer próxima ao ribeirão é extraordinária e vai de e encontro àquilo que tem de mais moderno hoje, que é valorizar a água, o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida das pessoas. O pedido da prefeitura à Sabesp é interessante, mas o projeto tem que ser muito bem pensado e executado com muita competência. Fato é que o jeito mais eficiente de valorizar o Boa Vista vai além de obras de contenção: é necessário criar áreas verdes ”, finaliza Toni Meira.
PREFEITURA
Como ainda não há projeto definido sobre o assunto, o departamento de Meio Ambiente preferiu não se manifestar.