Parque do Dourado, um lugar para estar

Nesta semana fui com a minha turma de 4º ano para um passeio ecológico pelo Parque do Dourado. Batizado de Parque Natural Municipal do Dourado, possui grande riqueza ambiental e de fauna e flora.

Fomos recepcionados pela Ariane, do Departamento de Meio Ambiente, e pelo Dirceu, que orienta e cuida da conservação e serviços do parque. Logo na chegada, ao descermos do ônibus, fomos surpreendidos pelo Max, cachorro muito alegre e amigo das crianças. Como é bom ser bem recebido!
Esse nosso lugar, que é uma Unidade de Conservação e Proteção Integral, está muito bem cuidado.

Reflorestamento acontecendo em vários estágios de desenvolvimento, preservação das matas, com uma vegetação exuberante, respeitando-se os ecossistemas naturais. Pudemos ver que, a cada árvore caída naturalmente, sossegadamente é resguardada sua transformação, seja em um novo vegetal, base para plantas aéreas, ou na decomposição. O rio que corre veloz, as corredeiras onde vivem espécies “extremamente” ameaçadas de extinção, a umidade e perfume no ar – quais serão as flores responsáveis por cada fragrância? Garças, pica-paus, pássaros variados e multicoloridos, é um ambiente que acolhe e regenera.

Há que se ficar ali, parado, a apreciar a beleza do lugar. No local, a uniformidade não tem espaço, cada árvore tem uma função estabelecida. As das margens seguram e protegem as barrancas dos processos erosivos, e resguardam a qualidade das águas. Outras caem por cima, e existem vários ângulos a serem observados e interpretados naquela natureza sem padronização. Tanto nas matas como nas corredeiras.

Através de parcerias (com universidades ou não), é possível catalogar cada exemplar de vegetação com uma placa de identificação. As crianças iriam anotar as que lhe interessassem, e então buscar as informações sobre cada espécie que tenha chamado sua atenção. José Carlos Garcia faz, em seu trabalho voluntário, a catalogação dos animais presentes ali.

“- Olha lá, professora!”, foi ouvido como entusiasmo, curiosidade, admiração, espanto e alegria. Sair da escola, percorrer trilhas, observar a natureza em suas nuances, nos sentimos numa outra proporção - quando estamos fora da sala de aula, em contato com a natureza, até o nosso tamanho é outro – e aquele silêncio interno, tão necessário, fica bem mais fácil percebê-lo.
Tivemos palestra de educação ambiental, caminhamos, observamos, conversamos, aprendemos e sentimos. No parque há árvore que é preciso três ou quatro para abraçá-la. Há também espaço para recreação: acampar e fazer churrasco com a família, balanços, gangorras, escorregador. Em cada quiosque há um grande latão de lixo. É claro que só deixaremos lá o orgânico, porque este vai para a vala do aterro, e o reciclável, trazemos de volta para o saco vermelho (ou será rosa?).
Com a pesca, é possível também práticas econômicas compatíveis com a proteção e preservação necessárias. Várias famílias tiram dali seu sustento.

O turismo ecológico é o grande filão do futuro, onde as pessoas sairão dos grandes centros para estar em locais de beleza única e preservados. Nossa cidade conquistou o título de estância turística em 2002, e esse título é fruto da vontade política e também do desejo da população de desenvolvimento da cidade através do turismo. Turismo de nossas diferenciações: lagos de represas várias cidades têm, e temos também. Já o ecológico, com trilhas, matas, corredeiras e parque, somente nós.

O turismo ecológico, e do futuro, por si só garantirá a proteção desse nosso patrimônio arqueológico, histórico-cultural e ambiental-paisagístico, pois dessa proteção e preservação sairá o sustento de nossa sociedade.
“- Professora, voltarei aqui com meus pais”. Não moramos em uma cidade grande, onde para termos mais contato com a natureza é preciso percorrer longas distâncias. Temos, sim, é que desligar a tevê e sairmos para aproveitar e conhecer, (sentirmos) de verdade, nossas belezas naturais.

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense, integrante da OAT
contato: adrianagarrote@ig.com.br

Foto: Fernandinho Franco - OAT

Legenda: Parque do Dourado: a natureza de uma forma singular



Rio Paranapanema, nossa memória viva


A agenda 21 é um documento elaborado como resultado dos trabalhos ocorridos durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, no qual os países participantes se comprometeram em refletir e cooperar na busca de soluções para problemas sócioambientais.

Este documento aponta para a necessidade de reconduzir as discussões da sociedade para um novo paradigma, uma nova interpretação do que precisamos, de fato, para a sobrevivência nossa e do planeta. Inclui-se nestas ações a inclusão social através da educação e saúde, passando pela ética política, e engloba as áreas onde a ação do homem impacta o ambiente.
O ponto central deste documento assinado em 1992 é que a sociedade local seja não somente ouvida e considerada, mas que ela própria se autoconduza, que ela mesma determine seus passos e o rumo a ser tomado.

A sociedade pirajuense, preocupada com seu destino, criou leis para assegurar a integridade do último trecho natural de rio vivo, que fica dentro de nosso município, e determina o futuro que pretende para o desenvolvimento local, que é o turístico.
Conforme determina a Agenda 21, Piraju, pautando-se pelos acordos ambientais firmados internacionalmente, estabelece o Plano Diretor, em lei de 2004, que rege o município e declara o leito natural do Paranapanema como Zona de Urbanização de Interesse Ambiental, cuja área deve ser valorizada e preservada em suas características ambientais e paisagísticas. Assim, é vedado o uso industrial, empreendimentos agroindustriais, usinas hidroelétricas e o parcelamento de solo para fins urbanos.

Em 2002, aprova-se lei municipal que determina o interregno de 20 anos para a construção de outra usina no município, para que se fosse possível analisar, de fato, os impactos destes tipos de obras em nosso ambiente. Apesar da lei, em nenhum momento estivemos fora do assédio de um ou outro grupo com olhos e vontade voltados a barrar nosso patrimônio primeiro.
Criou-se, também em 2002, o Parque Natural Municipal do Dourado como Unidade de Conservação e Proteção Integral, de posse e domínio públicos do antigo Posto Agropecuário Municipal, que, com área de 48,40 hectares, é habitado por espécies ameaçadas de extinção. Além da preservação dos mais variados ecossistemas naturais, de grande importância ecológica e beleza cênica, o local está destinado à realização de pesquisas científicas, ao desenvolvimento do turismo ecológico, atividades de educação ambiental, recreação, contato com a natureza.

Estabelece ações e práticas econômicas compatíveis, sem degradações, e protege as barrancas dos processos erosivos – e a qualidade das águas. A proteção se estende ao patrimônio arqueológico, histórico-cultural e ambiental-paisagístico do entorno. A comunidade pirajuense (e seus muitos visitantes) frequenta o local. No domingo do último feriado, contaram-se 380 pessoas no do Parque do Dourado.

Criado o parque, o Conselho Municipal do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural aprova o tombamento do rio Paranapanema (2002), patrimônio ambiental do município, um segmento de canal natural dotado de elementos de valor cênico, paisagístico e cultural para a comunidade.

A lei do tombamento é ato legítimo de proteção e representa o reconhecimento formal, pela nossa comunidade, da importância do último trecho de canal natural do rio Paranapanema. E assim, assegurou-se a preservação do trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão das Araras, onde está o Salto do Piraju, com seu valor cênico, sua riqueza histórica e cultural, pois é lugar de nossa memória, vinculado às origens do aldeamento que dá nome ao município. Ter cidadania significa possuir identidade, ser de um determinado local. O Salto do Piraju é nossa certidão de nascimento, nossa carteira de identidade, nossa memória viva!

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense e ambientalista integrante da OAT-Piraju

contato: adrianagarrote@ig.com.br


Foto:Fernando Franco - OAT
contato: fernandopiraju@hotmail.com


Legenda: Piraju: opção pelo meio ambiente, turismo e esportes náuticos

Nossa história com esse rio



Segundo José Luiz de Morais (1997), em torno de 1630 nossa terra era povoada pelos índios guaranis catequizados por jesuítas espanhóis, pois éramos terra espanhola através do Tratado de Tordesilhas. Os índios guaranis vindos do rio Paraná rumavam para o leste em hordas messiânicas, pois procuravam “a terra sem mal”, que seria um “paraíso mítico que devia ficar perto do mar”. Lugar especial e importante, aqui, Teyquê-pê, para os guaranis, era o "Caminho da Entrada" para o Peabiru, trilha indígena que levava até o Peru.

O nome Teyquê-pê (palavra guarani composta por Teyquê – entrada, e pê - caminho) foi corrompido para Tijuco Preto, devido a possível semelhança fonética, pelos caixeiros viajantes e outros cometas (comerciantes que percorriam lugares distantes, cidades, povoados, com suas mercadorias em lombo de burro) que cruzavam esses caminhos.

Subiram pelo rio Paranapanema muitos Caiuás, que se dividiram em dois grupos. O outro grupo prosseguiu subindo o Itararé. Os que ficaram fixaram-se nas imediações do Tijuco Preto, estabelecendo ali a sua aldeia – a Aldeia Piraju. Assim, através da instalação de uma aldeia indígena nas proximidades do ainda inexistente lugarejo Tijuco Preto, ocorreu o primeiro fato, os primeiros passos no caminho da origem de nossa cidade. (LEMAN, 1966, p. 40).

Segundo Camargo, Piraju é o verdadeiro e primitivo nome porque a aldeia dos Caiuás, que aqui se estabeleceram por volta de 1845, era denominada ‘Pi-rã-yu’, cujo significado em Guarani é fundo do rio "nivelado, estreitado", e Piraju, segundo Leman, com a pronúncia somente parecida com a que usamos, significa, em Guarani, peixe amarelo, o dourado, e foi assim oficializado, conforme afirma Leman (1966). Em 20 de agosto de 1892 foi a ascensão a Comarca, e em 20 de janeiro, no dia do padroeiro São Sebastião, é quando se comemora o aniversário. (CÁCERES, 1998, p. 13).

No tempo em que estudei no ensino fundamental era-nos apresentado uma geografia fragmentada, em partes. A paisagem estudada era delineada por um morro com verde gramado e uma árvore. Bem distante de nós. Não havia identificação pessoal. Bem mais tarde, já nos bancos de terceiro grau, me deparei com uma geografia bem diferente, uma geografia viva!

Na paisagem é que estão inseridas as marcas da história de uma sociedade. E lugar é o espaço onde as pessoas criam vínculos afetivos e subjetivos. Cidadania não se resume a direitos e deveres, há o “sentimento” de fazer parte de um local, de estar afetivamente ligado, ser responsável e comprometido historicamente. Somos parte integrante do ambiente de nossa cidade, conforme descrito pelo Pcn-Geografia (1997).

Nossa origem está ligada ao Paranapanema, e não é à toa quando Zocchi cita que, de todo o curso do rio, da nascente à foz, somos a comunidade mais irmanada com o rio (ZOCCHI, 2002, p. 52). Seu leito está cravado no meio de nossa cidade. Fazemos parte de seu trajeto e ele, de nossas vidas.

Segundo os Parâmetros (1998), a história e cultura de uma comunidade é o que a sustenta, alicerça-a, fá-la prosperar e se tornar reconhecida. Preservar é o maior respeito que se pode oferecer a um lugar. Sem referência, o homem perde também a confiança em si mesmo. Compreender a memória é reconhecer nossa própria construção.

Os Pcn’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) apontam a direção a ser seguida por cada disciplina em nosso país. Dentro da educação ambiental, temos como literatura obrigatória o PCN Meio Ambiente, o qual expressa muita preocupação em relação ao modo como estão sendo tratados os recursos naturais e culturais no Brasil.

De acordo com o texto, existe um real descaso com o ambiente no momento em que retiram o que necessitam para sua produção, seja agrícola, industrial, comercial. Muitas vezes, o lucro existe somente para um grupo econômico, e não é raro residirem bem distante do local, carregando consigo toda riqueza, e, no lugar, acabam deixando uma degradação ambiental, que fica muito caro tanto aos cofres públicos como para a saúde da população. (PCN Meio Ambiente, 1997, p. 25).

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense e integrante da OAT

E-mail: adrianagarrote@ig.com.br

Foto: Fernando Franco
Legenda: Rio Paranapanema, em Piraju: uma história de luta e preservação da nossa origem