Nossa história com esse rio



Segundo José Luiz de Morais (1997), em torno de 1630 nossa terra era povoada pelos índios guaranis catequizados por jesuítas espanhóis, pois éramos terra espanhola através do Tratado de Tordesilhas. Os índios guaranis vindos do rio Paraná rumavam para o leste em hordas messiânicas, pois procuravam “a terra sem mal”, que seria um “paraíso mítico que devia ficar perto do mar”. Lugar especial e importante, aqui, Teyquê-pê, para os guaranis, era o "Caminho da Entrada" para o Peabiru, trilha indígena que levava até o Peru.

O nome Teyquê-pê (palavra guarani composta por Teyquê – entrada, e pê - caminho) foi corrompido para Tijuco Preto, devido a possível semelhança fonética, pelos caixeiros viajantes e outros cometas (comerciantes que percorriam lugares distantes, cidades, povoados, com suas mercadorias em lombo de burro) que cruzavam esses caminhos.

Subiram pelo rio Paranapanema muitos Caiuás, que se dividiram em dois grupos. O outro grupo prosseguiu subindo o Itararé. Os que ficaram fixaram-se nas imediações do Tijuco Preto, estabelecendo ali a sua aldeia – a Aldeia Piraju. Assim, através da instalação de uma aldeia indígena nas proximidades do ainda inexistente lugarejo Tijuco Preto, ocorreu o primeiro fato, os primeiros passos no caminho da origem de nossa cidade. (LEMAN, 1966, p. 40).

Segundo Camargo, Piraju é o verdadeiro e primitivo nome porque a aldeia dos Caiuás, que aqui se estabeleceram por volta de 1845, era denominada ‘Pi-rã-yu’, cujo significado em Guarani é fundo do rio "nivelado, estreitado", e Piraju, segundo Leman, com a pronúncia somente parecida com a que usamos, significa, em Guarani, peixe amarelo, o dourado, e foi assim oficializado, conforme afirma Leman (1966). Em 20 de agosto de 1892 foi a ascensão a Comarca, e em 20 de janeiro, no dia do padroeiro São Sebastião, é quando se comemora o aniversário. (CÁCERES, 1998, p. 13).

No tempo em que estudei no ensino fundamental era-nos apresentado uma geografia fragmentada, em partes. A paisagem estudada era delineada por um morro com verde gramado e uma árvore. Bem distante de nós. Não havia identificação pessoal. Bem mais tarde, já nos bancos de terceiro grau, me deparei com uma geografia bem diferente, uma geografia viva!

Na paisagem é que estão inseridas as marcas da história de uma sociedade. E lugar é o espaço onde as pessoas criam vínculos afetivos e subjetivos. Cidadania não se resume a direitos e deveres, há o “sentimento” de fazer parte de um local, de estar afetivamente ligado, ser responsável e comprometido historicamente. Somos parte integrante do ambiente de nossa cidade, conforme descrito pelo Pcn-Geografia (1997).

Nossa origem está ligada ao Paranapanema, e não é à toa quando Zocchi cita que, de todo o curso do rio, da nascente à foz, somos a comunidade mais irmanada com o rio (ZOCCHI, 2002, p. 52). Seu leito está cravado no meio de nossa cidade. Fazemos parte de seu trajeto e ele, de nossas vidas.

Segundo os Parâmetros (1998), a história e cultura de uma comunidade é o que a sustenta, alicerça-a, fá-la prosperar e se tornar reconhecida. Preservar é o maior respeito que se pode oferecer a um lugar. Sem referência, o homem perde também a confiança em si mesmo. Compreender a memória é reconhecer nossa própria construção.

Os Pcn’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) apontam a direção a ser seguida por cada disciplina em nosso país. Dentro da educação ambiental, temos como literatura obrigatória o PCN Meio Ambiente, o qual expressa muita preocupação em relação ao modo como estão sendo tratados os recursos naturais e culturais no Brasil.

De acordo com o texto, existe um real descaso com o ambiente no momento em que retiram o que necessitam para sua produção, seja agrícola, industrial, comercial. Muitas vezes, o lucro existe somente para um grupo econômico, e não é raro residirem bem distante do local, carregando consigo toda riqueza, e, no lugar, acabam deixando uma degradação ambiental, que fica muito caro tanto aos cofres públicos como para a saúde da população. (PCN Meio Ambiente, 1997, p. 25).

Adriana Garrote Paschoarelli, pedagoga pirajuense e integrante da OAT

E-mail: adrianagarrote@ig.com.br

Foto: Fernando Franco
Legenda: Rio Paranapanema, em Piraju: uma história de luta e preservação da nossa origem



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