Trecho tombado do Rio Paranapanema em Piraju: exemplo seguido pela região. Foto: Fernando Franco (OAT) |
Não é à toa que toda a nossa região vem se mobilizando em defesa de suas riquezas naturais. Hoje, não podemos ‘achar’ que empreendimentos desta natureza trazem desenvolvimento sustentável para a localidade. Já está comprovado, hoje existem muitos estudos científicos demonstrando que esta forma de geração de energia implica grandes e irreversíveis prejuízos. Nossa região não aceita mais.
O professor doutor Jurandyr Ross, em seu artigo científico “Hidrelétricas e os impactos sócioambientais”, avalia profundamente os impactos causados ao ambiente durante todo o processo de instalação de um reservatório. Algumas das conseqüências imediatas do início da construção de um barramento são desmatamentos para abertura de estradas, instalação de canteiros de obras, de alojamentos, terraplenagem para instalação de serviços de apoio (cortes e aterros, interceptação de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação). Há intensificação da caça e pesca nos arredores do empreendimento, o que pode levar ao desaparecimento local de espécies animais.
Ross também aborda as transformações no meio socioeconômico: disseminações de doenças, elevação dos preços de terras e residências e desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico. Doenças, pois a água parada do reservatório é um estímulo ao aparecimento de vetores das febres de propagação hídrica, como leishmaniose, febre amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite.
Nesta fase da construção, o comércio é incrementado com o aumento da população, o que eleva também o preço das terras e residências, aumento do custo de vida para a população local (aluguéis, compra de imóveis rurais e urbanos). O problema é que depois da fase de enchimento e operação do reservatório, com o término da construção, as alterações não são somente no meio físico e biótico. Com o desaquecimento da economia local, os preços permanecem nas alturas e o custo de vida se mantém alto. Não desaquece com a finalização dos trabalhos. (ROSS, 1999, p.24-27).
Na justificativa do projeto de lei da Câmara de Vereadores de Ourinhos, alguns argumentos são relevantes. As matas das margens já se encontram estabilizadas. A retirada dessa micro e macrovegetação, que leva à extinção das espécies vegetais e animais que ali residem, causa, ainda, a liberação do estoque de carbono para a atmosfera. Os vereadores alertam que “(...) devemos considerar que esta fonte de energia (hidrelétrica) não é limpa, uma vez que, na implantação, é preciso desviar o rio, criando um novo leito artificial, provocando o movimento de grandes massas de solo e rochas. Isto causa erosões e assoreamentos no leito do rio à jusante, assim como grande destruição e modificação do ambiente natural, com relação à fauna silvestre (micro e macro), à flora, à água e aos solos”.
As comunidades de nossa região estão buscando informações e percebendo que, ao contrário do que sempre se pensou, projetos de aproveitamento hidrelétrico, sejam pequenos ou grandes, trazem mais prejuízos do que vantagens. Hoje, o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a biomassa apresentam efetivamente mais sustentabilidade. São o futuro.
Adriana Garrote Paschoarelli
pedagoga pirajuense
integrante da Organização Ambiental Teyquê-pê (OAT)
e-mail: adriana.garrote@ig.com.br