Três agentes da crise energética

Por: Adriana Garrote Paschoarelli*

“Nosso planeta pode satisfazer as necessidades da humanidade, porém não sua ambição”. (GANDHI, In: PÉREZ, 1995, p.221).

O Brasil ingressou na era da energia elétrica no final do século XIX, através da utilização do potencial hidrelétrico. De lá para cá, com uma necessidade constante e progressiva, esse modo de produção de energia foi ampliado vertiginosamente. Com essa intensidade toda na construção das obras, o desenvolvimento tecnológico que o setor trilhou entre as décadas de 60 e 80 foi gigantesco. Na década de 80 aparecem dois fatos que alteram a dinâmica da produção hidrelétrica, tanto mundial quanto brasileira.

O primeiro e mais determinante foi o endividamento do país, que, entre outros efeitos, elevou juros, inviabilizou empréstimos, engessou a economia. E o segundo, a influência na área ambiental de organizações internacionais que pressionam instituições, também internacionais, de financiamento, como BIRD, BID. Consequentemente, houve uma paralisação de 10 anos nos empreendimentos. Já a partir de 1997 e 1998, os investimentos foram retomados, resultantes da aprovação de um conjunto de leis ambientais e também da entrada do mercado privado no setor — Alcoa Alumínio S/A, Banco Bradesco, Cia. Cimento Itambé, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Consórcio TRACTEBEL/GERASUL, CPFL, CSN, e Grupo Odebrecht são algumas das empresas que atuam nas construções de usinas.

No modelo atual de desenvolvimento, nossas sociedades apresentam demanda crescente, para a saúde, o lazer, o conforto, como também para os crescimentos industrial, urbano e agropecuário. A energia elétrica funciona também como indicador do nível de qualidade de vida. O que não podemos deixar de lado são os efeitos do homem sobre a terra, a água, a atmosfera, a flora e a fauna.

O modo de produzir energia através de barramento de rio já levou à expulsão de terras de 80 milhões de pessoas no mundo. Possuímos no país mais de duas mil barragens, e há uma previsão do governo federal de construir mais 500 hidrelétricas, o que acabaria por expulsar de suas próprias terras mais de 800 mil pessoas.

Um dos impactos ambientais negativos mais flagrantes gerados pela imposição das barragens é a falta de consideração em relação aos impactos sócio-culturais e biopsíquicos que sofrem os povos ribeirinhos, indígenas, e a comunidade local, que acabam por sofrer modificações e transformações profundas na sua maneira de viver, de cultivar suas tradições e na relação direta com suas terras. (DIAS, 2001, p. 291).

O estrago econômico e social é grande, particularmente em nossa região, onde possuímos grande densidade populacional, e terras férteis inutilizadas pelos alagamentos. A qualidade da água procedente de barramentos, que abastece as comunidades dos municípios atingidos por represas, também fica comprometida pela decomposição das árvores no fundo do reservatório. Em escala global, o apodrecimento da vegetação submersa provoca grande emissão de gases, como o carbônico e metano, que são os grandes vilões do aquecimento da atmosfera, o popular efeito estufa.

A crise energética brasileira possui três agentes. O primeiro é o modelo excludente de produção e consumo: nesta ordem, a energia é disponibilizada para movimentar indústrias e, depois, para quem pode pagar. As maiores consumidoras são as empresas eletrointensivas, que atuam na fabricação de alumínio, cimento, papel, zinco, níquel, metais não ferrosos, química, ferroligas, cloro, entre outras.

O segundo é o governo federal, que pouco investe em planejamentos e pesquisas, e reafirma o modelo excludente através da privatização do setor para empresas nacionais e multinacionais, ou seja, confiando alguns dos nossos recursos essenciais — a água, a terra e a energia.

O terceiro são as empresas que se utilizam do sistema para lucrar, tanto na produção como no consumo de energia.

Outro aspecto relevante é a forma monogeradora de produção: 92% da energia gerada no país provêm de hidroelétricas. (MAB, ago. 2005).

As universidades públicas federais e estaduais se debruçam sobre essa questão monogeradora - fazer de um jeito só, uma maneira apenas - de produzir energia, e os resultados são unânimes em apontar que a utilização do potencial hidráulico de um rio gera apenas déficit ao município impactado.

Hoje, os barramentos são considerados entre as formas mais impactantes de se produzir energia. “Novas alternativas estão sendo geradas, novas possibilidades surgem com os avanços da ciência, impactos gerados podem ser irreversíveis” (PIROLI, 2011). O que buscamos é uma economia local viva e ativa (CARVALHO, 2008).

“Os recursos do BNDES (Fundo de Amparo ao Trabalhador) devem ser investidos na pesquisa de energias renováveis e não degradadoras, ou em sistemas de economia de energia para a população. O dinheiro do BNDES, que é nosso, não pode ser usado para nos prejudicar” (PIROLI, 2011).

*contato: adrianagarrote@ig.com.br

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