O Paranapanema desbravado

Por Adriana Garrote
adrianagarrote@ig.com.br

Com o objetivo de expandir a produção cafeeira do final século 19, quando as terras onde está Piraju ainda eram consideradas áreas desconhecidas e habitadas por indígenas, o governo da então Província de São Paulo organizou a ‘famosa’ Comissão Geográfica e Geológica, chefiada por Orville Derby e liderada pelo historiador Teodoro Sampaio.

Era 7 de abril de 1886, e não foi fácil a seleção e recrutamento da tripulação. Havia muito temor e desconfiança devido aos terrores fantásticos e perigos imaginários incutidos nas mentes do povo de Itapetininga. Era difícil, mesmo com bons salários e garantias, iniciar a arriscada expedição.

Em seu livro, Sampaio relata diariamente seus trabalhos, estudos e medições.

Em 12 de junho, a expedição chega à Cachoeira do Jurumirim, e tem início uma navegação em terreno montuoso, com grandes obstáculos. Desse ponto até o Salto dos Aranhas, a dificuldade foi enorme. Relata que, quando por aqui passaram, preferiram descer por terra, carregando as embarcações, devido à quantidade de cachoeiras, o que inviabilizava a navegação. Contou que da Cachoeira Jurumirim até nossa Vila, o rio Paranapanema serpenteava por 45 quilômetros, com 39 cachoeiras e 3 grandes saltos.

Do Salto dos Aranhas – hoje a 60 metros debaixo d’água, sob o último barramento, que o inundou em 2002 – até a Vila de São Sebastião do Tijuco Preto (antiga Piraju), com quedas repetidas, o intrépido geógrafo descreve como trecho do rio “excessivamente encachoeirado”, onde o transporte das embarcações foi realizado por terra, com carros de bois. Havia um espigão de 60 metros de altura. Permaneceram por aqui de 17 de junho até 1º de julho.

Nossa Vila de São Sebastião do Tijuco Preto fez uma recepção calorosa e a acolhida compreendeu até recursos e suprimentos. Tínhamos como prefeito Major Mariano Leonel Ferreira, que auxiliou como pôde a expedição de Teodoro Sampaio, inclusive engrossando seu pessoal com três índios Caiuás, “do aldeamento do Piraju, que eram muito práticos e conhecedores de todo o rio”.

Em seguida partiram para vencer Salto Grande, e por esse leito cravado na rocha teve início a mais ‘arriscada e escabrosa’ jornada de todo o Paranapanema. Em alguns pontos asembarcações eram descidas por cordas.

De águas revoltas, canais estreitos, tortuosos e acidentados, o rio Paranapanema foi modificado. Hoje, suas águas são navegáveis, calmas, paradas. Bom para trabalhar simetria. Contemplação. Busca-se, mais do que nunca e acima de tudo, o equilíbrio.

Talvez, no futuro, saibamos valorizar nossas protetoras e disformes matas ciliares, nossa rara e variada fauna, diversidade de flora, águas velozes e, sobretudo, apreciar a nossa disformidade. Viva a singularidade!

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