Povoamento do vale do Paranapanema: 8.000 anos

Por Adriana Garrote

Nossa região iniciou o povoamento há cerca de 8.000 anos, por nômades vindos da Patagônia (Argentina), que viviam da exploração da floresta, pela manufatura de artefatos da pedra lascada. Os estudos dos sítios arqueológicos revelam a presença dos Guarani em 500 e 1.030 anos, e dos Umbu com 2.500 a 5.000 anos atrás. A reconstituição do modo de vida, tanto dos Umbu quanto dos índios Guarani, pode ser estudada através do rigor na descrição das disposições das peças encontradas durante as escavações, o que determina seu modo de vida, seus hábitos e costumes.

Nossa bacia do Paranapanema possui grande riqueza arqueológica porque tivemos uma ocupação muito intensa e antiga. Os Umbu eram caçadores-coletores nômades, que viviam logo acima do rio, em terraços. Agrupavam-se em bandos de 20 a 30 pessoas, utilizando a floresta para sua sobrevivência, na coleta de vegetais, caça e pesca. No vale do Paranapanema encontraram clima agradável e boa alimentação. Desapareceram com a chegada dos Guarani (ZOCCHI 2002, p.57).

Os Guarani trouxeram ao vale a cultura do milho, da mandioca e das ervas medicinais. Eles dominavam o polimento da pedra e tinham o costume de construir aldeias nas colinas. Possuíam habitações, utilizavam grande quantidade de cerâmica e enterravam seus mortos em urnas funerárias. Eram mais avançados do que os Umbu.

Todo esse passado é revelado através do estudo de sítios arqueológicos que existem em abundância em nosso município. Os estudos foram iniciados em 1969, quando localizaram uma urna funerária pertencente aos Guarani. Estas culturas extintas são possíveis de ser conhecidas pela população devido ao trabalho de pesquisa da Associação Projeto Paranapanema, a Projpar, que é liderada pelo professor livre-docente em arqueologia brasileira pela USP, José Luiz de Morais. O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – MAE/USP tem cadastrados todos os sítios arqueológicos identificados na região.

A equipe de arqueologia é guiada pela tonalidade no solo, pelos vestígios, restos de comida, utensílios quebrados, cacos de cerâmica, onde é considerado o rigor na disposição das peças, a profundidade em que é localizado o sinal da presença dessas culturas antigas. As peças encontradas são analisadas por vários anos, e possibilitarão reconstituir o modo de vida da extinta cultura.

Piraju é tão fértil para a Arqueologia que, em um único trecho de terra, são encontrados quatro vestígios diferentes sobrepostos. Na superfície existem sinais da presença dos Guarani há 500 anos. No segundo sítio, mais abaixo, as marcas de outros Guarani, com 1.030 anos. No terceiro, aparece um sítio Umbu de 2.500 anos, e surge na outra camada, mais abaixo, novo vestígio dos Umbu, comprovando 5.000 anos de história local, conforme descrito por Zocchi (2002).

Toda essa riqueza histórica e cultural pode vir a se perder caso seja destruído nosso último trecho vivo de rio. Com o alagamento, o acesso aos sítios para estudos e visitação pública será impossibilitado. E assim, perdendo nosso passado e nossa identidade, somos jogados no mercado globalizado. Sem referência própria, não nos restarão muitas chances de desenvolvimento. Sem identidade, perderemos a noção de pertencimento.

Contato: adrianagarrote@ig.com.br

4 comentários:

  1. AGRADECEMOS IMENSAMENTE PELO TRABALHO DE RESGATAR ESSA HISTÓRIA QUE NÃO É CONHECIDA POR MUITOS, ESTAREI POSTANDO NO SITE E DIVULGANDO ESSA MATÉRIA QUE É MAIS UM MOTIVO PARA NÃO DEIXARMOS ALAGAR ESSE TRECHO DO RIO PARANAPANEMA.

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    1. Zeca, muito obrigado por sua colaboração e empenho nesta luta que é de TODOS OS PIRAJUENSES! Sigamos contra o barramento do nosso rio! Chega, queremos nossas corredeiras correndo livre!

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  2. Parabéns ao professor José Luiz de Morais e todos colaboradores(as) desse grande trabalho realizados...
    Engraçado realizando uma pesquisa encontrei essas informações,pois bem minha querida Mamãe é Pirajuense e eu não sabia de tudo isso...gostaria de saber mais informações...
    Abçs...a todos,
    Cordialmente,

    Adair Pereira Dias, filho de Sra. Ângela Emídia da Silva Dias .

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  3. Prezado Adair Pereira, obrigado pela visita. Comunicamos que mais informações sobre os sítios arqueológicos registrados no território de Piraju podem ser obtidas no MAE/USP, em São Paulo, ou diretamente com o doutor José Luiz de Morais e seus colaboradores na Casa da USP, em Piraju. No momento, é importante que você e seus amigos juntem-se a nós na defesa do trecho vivo do rio Paranapanema. Grande abraço e sigamos na luta !

    Organização Ambiental Teyque'-Pe' (OAT)

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