A NATUREZA AGRADECE O RECONHECIMENTO
Bacharel em Direito e Pesquisador em Direito Ambiental e do Consumidor
otfmonteiro@terra.com.br
É prazeroso ver e sentir
a beleza das florestas, com seus animais e flora exuberantes. Bem, exuberância
talvez seja uma palavra exagerada ante o processo de desmatamento pelo qual se
submetem extensas áreas pelo Brasil e pelo mundo.
A urbanização, a
expansão da indústria, o aumento da criação extensiva de gado, o possível plantio
de cana-de-açúcar na Amazônia têm desprestigiado a oferta de produtos que
nenhum ser humano criou ou desenvolveu e que são o ar e a água limpos, frutos e
flores saborosos e belos, clima e ambiente propícios à vida humana e animal.
Atualmente, é mais fácil
manter o verde de uma horta, de um pomar doméstico ou de um vaso florido. Já os
benefícios que a natureza fornece gratuitamente estão se tornando escassos pela
produção dramática e intermitente de riquezas, ignorando-se as dádivas que, no
futuro, nenhuma ciência possa fornecer, porque ela mesma, talvez aniquile o que
modernamente se tem denominado de serviços ambientais.
As definições sobre o
tema são diversas, sendo que na página do Senado Federal sobre a reforma do
Código Florestal, os Serviços Ambientais são conceituados como o conjunto de
processos naturais dos ecossistemas capazes de assegurar a ocorrência da vida
no planeta e as condições para as atividades produtivas, sendo o trabalho
realizado pelos ecossistemas, mas a atuação do ser humano para mantê-los ou
restaurá-los é considerada parte da tarefa. Em debate promovido pelo Conselho
Nacional dos Seringueiros, um dos jovens participantes afirmou que “nós fazemos
serviços ambientais quando tiramos apenas o necessário da floresta ou quando pescamos
os peixes menores e soltamos no rio”.
Pela conceituação acima,
a natureza faz a sua parte, cabendo ao ser humano minimizar suas intervenções
de modo que a floresta continue nos fornecendo água, frutas, plantas
medicinais, matéria para produção de energia, entre outras, sem comprometer sua
capacidade de absorver gás carbônico, controlar erosões, manter o ciclo
hidrológico, as pragas e doenças em níveis que permitam a nossa sobrevivência.
Em razão do forte ataque
a que o meio ambiente natural encontra-se submetido “é necessário promover a
proteção, o uso sustentável e a recuperação dos ecossistemas e, dessa forma,
garantir importantes serviços ambientais dos quais todos precisamos, como a
captura de carbono, a manutenção dos ciclos hídricos e a proteção da
biodiversidade e das belezas cênicas para a sociedade”, de acordo com o livro Pagamento por Serviços Ambientais na Mata
Atlântica, publicado pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas, do
Ministério do Meio Ambiente, edição 2011.
A
sociedade inicia a percepção da existência de uma dívida imposta a todos por
conta dos benefícios oferecidos pela floresta. E se a sociedade de consumo
extrai tanto da natureza, ela só está aí com as fontes de insumo ainda não
exauridas graças a quem cuida da natureza nativa, seja ou não proprietário. Se
considerarmos o percentual de pessoas vivendo nas regiões urbanas (segundo o Programa
das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, até 2050, 90% da população da
América Latina viverá em cidades.), é fácil verificar que cuidar e manter os
serviços ambientais tornou-se um encargo destinado a poucas pessoas, entre elas
estão os índios, os caiçaras, os fazendeiros, os seringueiros, e demais
habitantes das florestas ou áreas dominadas pelas comunidades preocupadas com a
sua preservação.
Não
há informações consistentes sobre quantos e quais países cumpriram suas metas
estabelecidas no protocolo de Kyoto, mas a partir dele foram criados mecanismos
para auxiliar os países a atingir a redução nas emissões de gases do efeito
estufa (GEE), como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, uma sugestão
brasileira incorporada às regras do Protocolo de Kyoto, que consiste na
implantação de projetos em países em desenvolvimento com o objetivo de reduzir
as emissões e contribuir para o desenvolvimento sustentável desses países. Cada
tonelada de CO2 não emitida se transforma em uma unidade de crédito de carbono,
que poderá ser negociada no mercado mundial e adquirida pelos países comprometidos
com as reduções das emissões de gases do efeito estufa, os quais não
conseguiram atingir suas metas.
O
MDL é um importante incentivo para os países em desenvolvimento, como o Brasil,
que recentemente tem implantado projetos de desenvolvimento sustentável e por incorporar
capital novo proveniente da negociação dos créditos de carbono. É importante
ressaltar que os países que assumiram a obrigação de reduzir suas emissões de
gases do efeito estufa não podem cumprir suas metas apenas adquirindo créditos
de carbono. Eles devem elaborar políticas de redução e executá-las de modo que
suas indústrias e seus equipamentos urbanos e rurais se readaptem para diminuir
suas emissões e, acessoriamente, completar suas metas de redução por meio da
compra de crédito de carbono com a aquisição das reduções certificadas de emissões (CER).
Existem
no Brasil inúmeras iniciativas estaduais e algumas federais de Pagamentos por
Serviços Ambientais, como o Proambiente - Programa de
Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar, hoje subordinado ao
Ministério do Meio Ambiente (MMA), que premia com um terço do salário mínimo
agricultores e pecuaristas que agregam ações menos impactantes ao meio ambiente;
o Pagamento
por Serviços Ambientais (PSA) em São Paulo é regido pela Lei 13.798/09,
e foi regulamentado pelo Decreto 55.947/10. O PSA paulista paga produtores
rurais que protejam recursos naturais em suas propriedades, como nascentes e
recuperem matas ciliares. É o caso do Projeto Mina D’água, que visa
remunerar os produtores rurais que preservem nascentes existentes dentro de
suas propriedades, contribuindo com a qualidade da água dos rios; o Programa
Bolsa Floresta, classificado pelo governo do Estado do Amazonas como o
maior programa de pagamento por serviços ambientais do mundo, envolve uma área
de 10 milhões de hectares, 15 unidades de conservação e atende 35 mil pessoas; um
projeto brasileiro de repercussão internacional está em andamento no município
de Extrema, sul de Minas Gerais, denominado Produtor de Água. É um
projeto que acontece nas encostas do município, e está possibilitando melhor e
maior produção de água com o seu reflorestamento e a construção de canais de
retenção, evitando a erosão e aumentando a reserva hídrica. O Produtor
de Água recebeu vários prêmios, sendo o mais importante entregue pela
Organização das Nações Unidas – ONU, em março passado, em Dubai, ao reconhecer
o projeto como uma das melhores práticas mundiais de conservação. E não podemos
nos esquecer que boa parte da água consumida na região metropolitana de São
Paulo tem origem na área onde está localizada a cidade de Extrema.
Estes
são alguns exemplos espalhados pelo Brasil, ainda que não exista uma legislação
federal estabelecendo um marco regulatório para todo país.
Oswaldo Tadeu Fernandes Monteiro, parabéns pelo artigo, muito bem redigido e esclarecedor!
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