ONGs investem em pesca sustentável no Brasil

A Bloomberg Philantropies irá investir US$ 53 milhões, em cinco anos, para fortalecer pescadores e recuperar os estoques pesqueiros no Brasil, no Chile e nas Filipinas. O compromisso batizado de "Vibrant Ocean Initiative" é um esforço da fundação do ex-prefeito de Nova York Michael R. 
Bloomberg para reverter a perda de biodiversidade nos oceanos.

No Brasil, a iniciativa marca também a entrada de três ONGs, a Rare, a Oceana e a Eko Asset Management, que irão implementar o programa. A Rare tem 40 anos de trajetória em conservação de espécies e trabalho com comunidades. A Oceana tem foco em políticas públicas. A EKO buscará atrair investidores e melhorar a cadeia da pesca e o preço dos produtos.
 

"Trabalhar no Brasil nesta área é animador", disse Brett Jenks, presidente e CEO da Rare ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. "O Brasil é conhecido pela vasta biodiversidade em terra, mas tem 8 mil quilômetros de costa, uma enorme diversidade marinha. E menos de 2% disso é protegido".

Jenks, que trabalha com conservação tropical desde 1992, diz que a projeção é beneficiar diretamente 7.000 famílias em 18 reservas ao longo da costa. Ele lembra que 98% dos pescadores no Brasil são independentes ou operam em pequena escala, e respondem por mais de 60% da produção pesqueira, sendo que 70% disso, calcula-se, ocorre em níveis insustentáveis. O consumo per capita, por sua vez, aumentou 50% entre 2005 e 2010.

No mundo estima-se que um bilhão de pessoas têm nos peixes sua fonte principal de proteína. Os cenários projetam aumento de 20% na demanda com o aumento da população e dos níveis de consumo. Na outra ponta, a pesca nos oceanos chegou ao pico em 1996 e vem caindo desde então.

O início do trabalho da Rare no Brasil será em seis áreas, que podem ser Resex - tipo de unidade de conservação de uso sustentável e utilizada por populações tradicionais -, ou outra categoria de áreas protegidas na costa. Nas fases seguintes a ideia da ONG é operar em mais 18.

A Rare trabalha com oceanos há 10 anos. "Como se protegem áreas no mar? O jeito é começar a identificar as áreas tradicionais onde os pescadores pescam há séculos. Eles sabem onde os peixes estão. Depois é preciso descobrir as áreas de reprodução dos peixes", explica Jenks. "O Brasil tem vantagens neste modelo porque já tem as Resex e legislação já é estabelecida."

Identificados os locais, a estratégia da Rare é tentar desenhar áreas de uso exclusivo para os pescadores locais e, dentro delas ou ao lado, zonas onde não se pesca e os peixes podem se recuperar, explica Márcia Cota, diretora para Desenvolvimento do Programa Brasil.

O diferencial do trabalho da ONG é envolver a comunidade de pescadores no esforço de conservação. A base disso são as campanhas "Pride", ou campanhas do "Orgulho". A Rare procura inspirar populações locais a se orgulhar de determinada espécie e habitat que são únicas naquela região. Foi assim que começou a atuar, em 1978, no Caribe. Espécies ameaçadas de pássaros tornaram-se símbolo de alguns países e o marketing social ajudou a conservar a espécie, o habitat, as fontes de água.

"O desafio no mundo não é criar áreas de preservação marinhas, isso é fácil. O problema é o custo para manejar isso", diz o CEO da Rare. Se os programas não envolvem a comunidade local, um dos custos principais é justamente proteger as áreas dos pescadores. "O que me anima neste modelo é que, se pudermos fortalecer os pescadores e interessá-los em proteger a áreas onde podem pescar, o custo cai", Continua: "Um dos grandes custos no manejo destas áreas é a gasolina para a fiscalização dos barcos. Se os pescadores locais estão envolvidos não se gasta tanto dinheiro defendendo áreas. Eles próprios fazem isso."


A Rare tem hoje mais de 100 funcionários no mundo e escritórios na Indonésia, Filipinas, México e China. Trabalha na conservação de espécies, na preservação de bacias hidrográficas e em projetos de agricultura sustentável.

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